quarta-feira, 6 de setembro de 2023

AUTOBIOGRAFIA DE UM MORTO (16)

 

A SÍNDROME DO NADA

Em um dado contexto, desaparecem vestígios de posse. Nada é meu. Tudo pertence ao Universo e para ele foram processados os acontecimentos e interações pré-arranjadas. Minha parcela foi redirecionar o caos em cada manifestação física ou emocional durante a vida terrena, a missão abraçada jamais foi minha, fomos serventes e serviçais do Todo. Fomos nada. Ser nada implicava em iludir-se para dar continuidade à experiência. Somente quem se ilude, segura porções de consciência em formação para perder-se no nada. Confesso que, em vida, encontrei poucas pessoas apaixonadas pelo seu nada, mas no meu caso o nada era algo assustador, não me impedia de criar ilusões e construções mentais de poder. Havia sempre um impulso querendo ter alguma coisa para chamar de meu. No entanto, esta alguma coisa sempre acabava em nada e me deixava incompleto, lutando por mais.


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