quarta-feira, 6 de setembro de 2023

AUTOBIOGRAFIA DE UM MORTO (10)

 

ONCOTÔ...ONCOVÔ

Parece um lugar, mas não é um lugar, pois não tem chão nem matéria. Parece um país; não é o meu país de origem com certeza, mas posso falar minha língua materna e ser compreendido. Os cinco sentidos foram todos substituídos por um só, um que eu ainda não dei nome. Tudo vibra em som e luz, onde a visão é determinada por frequências até para quem nunca estudou física na vida e tudo é provisório sem sair do eterno. Vultos se movem sem resistências, espalhando cores variadas por onde vagam. Penso que pensamentos tem cores, átomos conversam entre si, plantas compartilham sabedoria, animais se preparam para virar gente, músicas são mantras, paredes podem ser atravessadas como se fossem feitas de nuvem, mas até o conceito ou percepção de parede é diferente, é apenas uma expectativa de parede. Tive uma ligeira desconfiança de que a percepção reina solene naqueles jardins, onde tudo o que existe ou parece existir é para ser sentido e absorvido. Pensamos, concebemos, absorvemos e dissolvemos infinitas possibilidades. O meio de transporte é a intenção. As notícias e orientações nos chegam aos ouvidos espirituais por meio de ondas escalares. O que os outros concebem, a gente percebe de relance, contempla, mas logo desaparecem, talvez por nada nos pertencer nem pertencer a eles, talvez apenas para serem registrados. Não faço a menor ideia de onde estou, mas não é preciso.


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