GANGES

 

Assim como a lama sonha com Deus e recebe a flor de lotus em sua superfície, assim também o Rio Ganges sonha com Deus. Sem se importar com a sujeira sólida que percorre suas entranhas líquidas, o rio segue seu destino planetário. Sem se importar com as cinzas de corpos humanos cremados na fé, o rio não perde a fé em si mesmo. Sem interromper a multidão que o invade de rituais, o Ganges acelera suas águas para encontrar logo a eternidade. Ele se cala diante do paradoxo de limpar os pecados em águas tão turvas, sabedor de carregar em si as bênçãos dos pés de Vishnu. O Ganges corre veloz como veloz corre a vida em nossas veias, por isso este nome lhe foi dado. Só resta a ele sonhar com Deus, diante de tantas pessoas a povoa-lo sem permissão, movidos pela história dos deuses e pelas profecias que o mantém famoso. Tal qual uma grandiosa mãe, o Ganges é sugado por todos os filhos que dele se aproximam, com distintas intenções, sofrendo calado pelo que fizeram e fazem dele. O Ganges nunca foi apenas um rio.

 

 

DESESPERADOS

 

Quem anda no desespero, vive os seus exageros, ausenta seus entretantos, espera o fogo aceso, aumenta na casa os cantos, se vê sem o melhor tempero, faz caso mas não faz conta, se isola por preconceito, rebate até os enfermos, discute com as paredes, faz onda com a própria infância, esquece o que fez primeiro, meteu o nariz na porta, falou com seu travesseiro, dormiu sem ser amada, caiu no desfiladeiro, cantou o verso desfeito, trocou de alma em Janeiro, pediu água ao retirante, deu espinho ao jardineiro, e mesmo que a todo instante, se passa onde fica o porteiro, não sabe da missa um terço, conhece apenas o avesso e antes que ouça a verdade, já fugiu meio de esgueio.

 

OUVIR E FALAR

 

Ouvir leva à aprendizagem. Falar leva aos desencontros. Ouvir é não favorecer a velocidade. Falar é atropelar as palavras, com ou sem risco de se machucar. Ouvir é arquitetar realidades. Falar é arquitetar sonhos. Ouvir é repensar o que se pensou, antes de embrulhá-lo para presente. Falar é entregar presentes indesejados do impensado. Ouvir é se doar inteiro. Falar é tomar o outro por partes. Ouvir é acender as luzes da alma. Falar é apagar as luzes de forma insana. Ouvir é construir pontes. Falar é erguer muros. Ouvir é qualidade e atributo de quem respeita espaços sem a obrigação de preenche-los. Falar é invadir espaços com muitos exércitos. Ouvir leva a aprendizagem até você. Falar é um desencontro entre a língua e o paladar.

 

 

TER VONTADE NÃO É FAZER

 

A vida só acontece hoje e quem a define são suas prioridades. Se a prioridade for o futuro, sobra medo. Se for o passado, sobra ressentimento. Se for os outros, falta você. Se sobram dúvidas, falta recompor seus pedaços. Se for a matéria, sobram distâncias. Se for a mesa posta, falta sensibilidade para quem não tem mesa. Se for a aparência, falta tutano. Se for a teoria, falta a força de vontade. Não importa seu subproduto como justificativa para ser visto e admirado por todos, já que isso nunca acontece, já que prestígio não paga contas nem leva ninguém para o céu. Enquanto isso, o tempo passa, a vida passa, a coragem se definha com os músculos e o horizonte se torna apenas uma linha do pôr de sol.

REINO ENCANTADO

 

Já não se ouve mais a voz humana, já não se escuta mais sua busca incessante pela verdade e pela dignidade purificada. O que se ouve é um eco, um som distorcido pela realidade para não mais revelar essências, nem fragrâncias nem poesia. O que se escuta é um som frio e distante do humano, ao que denominamos desumano; um som automático e repetitivo em narrativas incontáveis e torpes. O que se ouve, sem pressa de saber se chegou ou não onde deveria, pois o que importa é ruminar sons ininteligíveis, são ruídos de comunicação com o próprio espelho quebrado. Os sons que se espalham, hoje se perderam por entre suas trincas e fissuras, justamente por não ter propósitos. A palavra foi destituída de raízes e trocou seu conteúdo pelo contexto imaginado. Até a gramática foi vilipendiada, usada como instrumento de demolição de opositores políticos. O certo sou eu quem decide, dizem os desumanizados. Água mole em pedra dura tanto bate até que some, diz a nova realidade. Era uma vez um Reino Encantado do Silêncio, impenetrável para os acéfalos, inviolável pelos batedores de carteirinha, inalcançável para os ruidosos de plantão.

 

 

 

NÃO QUERO QUE VOCÊ ESQUEÇA

 

Certas coisas a gente não quer que esqueçam, principalmente os mais queridos. Não se trata de sermos lembrados pelo que fizemos, mas sim pelo que se tornaram a partir de nossas intervenções ou ajuda. Nas horas difíceis, a simples lembrança de alguma ferramenta que oferecemos pode ser decisiva, pode salvar um erro irreparável, pode salvar uma vida. Contextos mudam, conteúdo nem sempre. Pessoas vão embora de nossas vidas e o que foi feito fica registrado emocionalmente. Melhor mesmo é saber que somos seres provisórios na linha do tempo, somos tênues como a teia de aranha, somos mortais com data de vencimento ilegível. Nossa passagem rápida pela Terra não pode ser resumida em sequestrar emoções e identidade dos outros, em denegrir pessoas, em esquecer aqueles que fizeram diferença positiva em nossa trajetória. Não quero que você esqueça disso. Sua vida pode ter propósitos melhores.

 

COISA DOS DESALMADOS

 

Quem tem a alma criança, se contenta com os pequenos sonhos e com os pequenos problemas, por não ter esperança e viver o momento apenas. Quem tem a alma menina, se arranja como pode na esquina das vontades, pois que não espera pelo medo, é só desejo, só desejo. Quem tem a alma crescida, se encontra e se perde na busca veloz de seus dias, sabendo que o tempo não perdoa os que pararam de olhar para a vida. Quem tem a alma anciã, se contenta com o mínimo olhar, já não quer mais morder a maçã, pois que os dedos e lábios só oram para o seu dia chegar. Quem não tem alma no bolso, nas ruas, na escola ou trabalho, pensou que nasceu e viveu, pensou que a pena valeu, mas sem saber foi-se embora.

DEMANDAS

 

Quando você faz o seu melhor, e o resultado não corresponde à suas expectativas, o melhor a fazer é refazer suas expectativas, pois só assim será possível prestar mais atenção em suas demandas do que nelas. Prestar atenção nas demandas significa remanejar suas energias, uma vez que as demandas são objetivas e suas expectativas são subjetivas, sem comprometer resultados. Já as expectativas, nos roubam energia necessária para a realização de tarefas e nunca rendem como esperamos. Se as demandas forem nossas, torna-se mais fácil renegocia-las. Se as demandas vêm dos outros, é necessário compreender as expectativas deles antes de qualquer ação, sua real possibilidade de manifestação ou atendimento, suas c onsequências, seu custo-benefício. Nada pode ficar fora da equação quandom se lida com carências alheias.

 

PERIGO À VISTA

 

As tecnologias emergentes já estão a nos dar sinais de alerta para que saibamos ou antecipemos o que vai acontecer muito em breve. Assim como a Internet saiu do controle das autoridades e deu voz a bilhões de terráqueos, assim como os caminhoneiros demonstraram ao mundo que eles tem forte poder social nas mãos sobre os poderosos de plantão, assim como um simples vírus fabricado em laboratório pode comprometer toda a Humanidade mesmo em tempos de paz, assim como as fake news podem dominar as cabeças menos pensantes com força de verdade, assim como os políticos podem dominar pela caneta até o juramento de Hipócrates feito pelos Médicos, assim como as novas tecnologias desenvolvidas por anônimos engenheiros podem se tornar simples brinquedinhos com poder letal, assim também haverá um novo pensamento dominante, ou seja, o prazer e a tentação de colocar tudo fora do controle, fora da casinha, fora do sistema. É uma nova revolução de ocupação dos espaços vazios, devido ao excesso de informações e de habitantes no planeta. Observemos com mais atenção a todos estes movimentos.

 

 

O IMPACTO DAS ESCOLHAS

 

Se existem escolhas boas e ruins, se fazemos escolhas a todo instante, se as escolhas lançam sobre nós suas consequências, se nossas escolhas afetam a quem não deveriam, se as escolhas dos outros nos atingem, se nossas escolhas nos distraem e nos desviam do caminho certo, se o que escolhemos pode não ter sido o que queríamos, se alguém também escolhe por nós em nome de outras agendas pessoais, se nos arrependemos até de escolhas bem pensadas, se o escolhido ignorou a seletividade e o impossível, se as escolhas acontecem por impulso e instinto, se escolhemos mal por não termos mais escolhas, se escolhemos bem por não termos mais escolhas, se nem sempre acompanhamos o que vem com elas, só nos resta uma pergunta para meditar: somos nós que fazemos as escolhas ou são as escolhas que nos fazem?

TEM GENTE

 

Tem gente que não se contenta com o próprio descontentamento e prefere fazer contendas com quem lhe incomoda o sucesso. Tem gente que não se contenta com o próprio isolamento, mas gasta todas as suas energias para coroar de má reputação aqueles que estão fazendo algo pelo próximo. Tem gente que não se contenta com a própria indisposição e acaba se dispondo a indispor-se com quem passa por perto. Tem gente que não se contenta com a própria impulsividade e prefere impulsionar também aqueles que nada tem a ver com suas mazelas. Tem gente que não se contenta com as próprias mentiras e as coloca na frente do ventilador para que alcancem os confins da Terra. Tem gente que não se contenta com fatos, evidências e provas, proferindo palavras ferinas com o fel das acusações levianas, até que se convençam de que foram esquecidas por todos. Tem gente que não se contenta nem com a existência de gente diferente delas.

MEDO DE DIZER SIM

Ataques de pânico guardam um segredo, o de que eles só acontecem quando temos medo de dizer sim. Observe com atenção como o medo nos paralisa diante de algo novo, como muda a marcha sem necessidade, como inventa um problema assustador para justificar o uso da palavra “não”. O medo é sinal de nossa omissão. Na realidade, o maior gatilho de qualquer ataque de pânico é a pré-disposição em dizer “não” a coisas novas que nos tiram da zona de conforto emocional. A consequência natural é agarrar-se ao passado para, assim, repeti-lo sem culpa. Naturalmente, o som da palavra “sim” gera movimentos de expansão e nos convida à ação, eliminando o poder de expectativas irreais e contribuindo para construir um futuro com calma e convicção. O problema maior é que uma desistência nunca vem sozinha.

NO MEIO DO DESPERTAR DE CONSCIÊNCIA

 

Se aparece A, sinto.

Se aparece B, calo.

Se aparece C, incluo.

Se aparece D, contemplo.

Se aparece E, observo.

Se aparece F, esvazio.

Se aparece G, transcendo.

Se aparece H, ressignifico.

Se aparece I, conecto.

Se aparece J, neutralizo.

Se aparece K, fluo.

Se aparece L, sorrio.

Se aparece M, integro.

Se aparece N, presencio.

Se aparece O, silencio.

Se aparece P, recebo.

Se aparece Q, processo.

Se aparece R, canalizo.

Se aparece S, expando.

Se aparece T, desperto.

Se aparece U, desapareço.

Se aparece V, encontro.

Se aparece X, venero.

Se aparece Y, recolho.

Se aparece W, dissolvo.

Se aparece Z, divinizo.

Com todas as letras, a Existência e a Não Existência escrevem destinos.

 

 

 

DEBAIXO DO TAPETE TEM COISAS

 

Há momentos na vida em que perdemos a esperança junto com alguma perda pessoal, tamanho o desespero e o medo da solidão. Nestas horas nos deparamos com o osso de nossas carências, com a verdade de nossos limites, com a falta de propósitos para os dias que virão. Revivemos cada indecisão e cada insegurança como se fossem nossa coluna vertebral. Reciclamos o passado, querendo traze-lo definitivamente de volta. Molhamos os olhos com a repetição incontável de narrativas tristes que nada contribuem para nosso crescimento emocional. Deixamos de ressignificar o luto, afinal é para isso que ele existe, deixando também de ressignificar a vida. Até que, de repente, nasce uma nova criatura na família e vem cair em nossos braços e abraços. Sentimo-nos recompensados e amparados por Deus, sem nos dar conta de que usamos, emocionalmente, aquele evento, para encobrir nossa solidão existencial jogada debaixo do tapete.

 

INTERRUPÇÃO DO ABASTECIMENTO ALIMENTAR NO MUNDO

 

A pandemia não é a única causa do retorno da inflação em todos os países do planeta. Sinais nos foram dados claramente. Lembremos daquele navio encalhado no Estreito, onde deveriam passar milhares de navios carregados com alimentação a ser distribuída para o mundo. Lembremos das pragas de gafanhotos em vários países. Lembremos do alerta do Governo Chinês para a sua população estocar mantimentos em 2022. Lembremos a debandada de motoristas de caminhão abandonando a Inglaterra por causa de sua saída do Mercado Comum Europeu. Lembremos dos navios cargueiros estacionados na costa dos EUA sem descarregar nada desde Dezembro último. Lembremos da influência política chinesa na Argentina obrigando o país vizinho a exportar toda a sua produção agropecuária a eles. Lembremos recentemente os motoristas de caminhão do Canadá protestando contra a ditadura do governo socialista de Justin Trudeau, no que diz respeito ao controle social via passaporte sanitário. Lembremos das fortes chuvas e deslizamentos em vários países, incluindo nosso Brasil, atrasando colheitas e plantações. Lembremos dos vídeos do Youtube ensinando e aconselhando a população a armazenar alimentos para o que está prestes a chegar. Lembremos das profecias apocalípticas da marca da besta sendo obrigatória para comprar e vender qualquer coisa. O pior cego é aquele que não quer enxergar. “Vai faltar alimento no mundo”.

 

O PRINCÍPIO DA INCERTEZA (7)

 

Se não houvesse o Princípio da Incerteza, não haveria espaço para a resiliência que tanto ajuda a humanidade a se superar, se adaptar, se transformar, se conduzir por caminhos desconhecidos. Não haveria a flexibilidade que nos dá um jogo de cintura diante das adversidades, diante dos desequilíbrios, como se as águas do mar balançassem o barco para que ele chegasse mais depressa no lugar de destino. Não haveria uma fonte capaz de acolher tantas diferenças, oferecendo-nos um ninho de pertencimento, onde reina o amor por todas as coisas, incluindo as incertezas. É este princípio que nos convida a tocar a verdade pelo caminho da sabedoria, esta sim disponível apenas aos que se mantém íntegros diante das fragmentações que a vida revela. O nosso querer individual alimenta este princípio e ele nos retroalimenta.

 

O PRINCÍPIO DA INCERTEZA (6)

 

Quando você acorda de manhã, você não está perfeito, não está completo nem concluído para viver o que precisa ser vivido na sua pele. Porém, você precisa se arrumar para se apresentar aos outros, precisa se preparar psicologicamente para lidar com os desafios, precisa se alimentar bem para manter um bom nível de energia e trabalhar. Você é o único responsável por seu estado de humor. Ao enfrentar mais um dia de vida, você não para e pensa nas incertezas como algo natural e coletivo, mas sim como obstáculos individuais quase impensáveis que tem o poder de desmotiva-lo. Esta diferença, entre estar pronto para a vida e se arrumar para o que vai chegar, são dois aspectos distintos do cotidiano que denunciam claramente o Princípio da Incerteza em ação.

 

O PRINCÍPIO DA INCERTEZA (5)

 

A vida é espelho dentro do Princípio da Incerteza. Ela nos aponta a necessidade de mudança, nos apresenta uma possibilidade atraente, nos incita a deixar o velho e a buscar o novo, mas, ao mesmo tempo, revela nossas sombras e limitações, nos distrai do objetivo final, nos coloca diante de inimigos para vermos o que aconteceria se escolhêssemos o caminho errado, mesmo que parentes se prestem provisoriamente ao papel do mal. A incerteza está presente em todas as falas, todas as ações, todas as interações, pois seu papel é jogar luz e consciência no caminho dos caminhantes. A incerteza é como a Netflix, onde você escolhe o filme pelo título ou resumo, mas a estória muitas vezes o surpreende e o deixa pasmo ou frustrado no final. E você nem percebeu quanto de calorias ingeriu com as pipocas.

 

 

O PRINCÍPIO DA INCERTEZA (4)

 

Ao fazer parte da criação dos mundos, o Princípio da Incerteza nos deu mais um paradoxo entre tantos existentes, o de planejar o incontrolável para garantir sua continuidade ad infinitum. Seria algo como você acordar de manhã e planejar suas milhares de respostas se o telefone tocar. A vida não acontece em nossa cabeça, ela flui sozinha como processos desencadeados há muito tempo atrás. O que acontece em nossa cabeça são apenas interpretações, devaneios, desejos, alucinações, achismos, tentativas inglórias de controle, reciclagem de memórias. A vida não é isso. A vida é a incerteza. A vida se vale das incertezas para atender a tudo e a todos os processos simultaneamente, rearranjando as energias disponíveis a cada momento. A incerteza é eterna.

O PRINCÍPIO DA INCERTEZA (3)

 

Pessoas que sentem a necessidade de a tudo controlar, mal se dão conta de que estão tentando segurar um rio com as mãos. Todo evento, ao ser repetido, muda algumas variáveis constantemente, justamente pelo fascínio que a vida tem pelo desconhecido. Pessoas que querem saber tudo, antes de algo acontecer, mal sabem que estão ignorando a beleza do universo e os desígnios de Deus, envolvidos estão com um turbilhão de pensamentos desconexos ou apegados demais estão aos seus desejos e planos. A criação universal já foi planejada e arquitetada no início, não precisando mais de certezas para continuar sua expansão. Somente aqueles que desejam permanecer pequenos, como pessoa, apoiam-se nas cordas da segurança e se vendem ao materialismo como forma de estar no mundo.

O PRINCÍPIO DA INCERTEZA (2)

Pelo Princípio da Incerteza, a vida corre feito um rio, renovando suas águas a todo instante, mas sem perder o rumo ou o desejo de chegar até ao mar. O rio é uma rua e como tal pode nos levar a vários lugares, pode produzir caminhos ou obstáculos, possuindo suas regras para viabilizar trânsito de máquinas e passageiros. A vida necessita das infinitas possibilidades que somente o Princípio da Incerteza pode garantir. O Espírito do rio e o Espírito da vida tem a mesma matéria prima do Espírito da incerteza. Move-se respeitoso às leis universais que o sustentam, este princípio que nunca se torna final, este princípio que inicia todas as coisas e as liberta para serem processadas numa corrente de eventos aleatórios. O universo não gosta de apego. Ele só quer fluir, nada mais.

O PRINCÍPIO DA INCERTEZA (1)

O Princípio da Incerteza é uma das leis universais mais inteligentes que existe. Através dele, a dualidade encontra sua força de manifestação e as mudanças que precisam acontecer, por fazerem parte de processos cósmicos, podem acontecer sem tanta interferência das criaturas. Esta inteligência nem sempre é vista pelos humanos como tal. Achamos que ela nos traz insegurança, pois ela nos assusta e retira nosso ponto de equilíbrio, tão ensinado como vital para se ter uma vida feliz, quando na verdade, nos rendemos aos apegos e dependência e caímos na zona do medo ou na zona de conforto. O Princípio da Incerteza serve de estrutura silenciosa para o mistério, serve de coluna vertebral para o desconhecido e tanto pode fascinar quanto abrir portas de sabedoria.

PROVAÇÕES

 

As provações pelas quais passamos em vida, sejam presenteadas pelo destino ou escolhidas para nos justificar de omissões, sempre refletem a vibração de nossos pensamentos e o futuro que reservamos ao nosso estoque de energias emocionais. As provações que nos chegam, tem seu propósito único de nos lembrar que somos Espírito, cujo intento maior consiste em nos fortalecer diante das dificuldades mundanas. As provações ou a cruz dos outros que escolhemos carregar, servem de desculpas quando deixamos de fazer algo por nós, seja por medo ou por insegurança. Os pensamentos que surgem, durante as provações, revelam o grau de consciência que temos da realidade interna, sendo amparados por emoções que deem vazão aos sentidos que os interpretem. As provações são exercícios de grandeza para quem, ilusoriamente, se acha pequeno demais.

PROFESSORES DE CRENÇAS

 

Somos condicionados a somente aceitar aquilo que compreendemos, explicamos ou racionalizamos, com tudo aquilo que se mostra aos nossos olhos por alguém em quem confiamos. Geralmente formamos nossa crença baseados na aparência das coisas, nas palavras das pessoas, na autoridade de quem ensina e, se sobrar tempo de maturidade, aprendemos com nossas experiências de vida. O tempo vai passando e a gente vai ficando na estação do trem, sem questionar nossos professores de crenças. Sem perceber que fomos atropelados pelo determinismo de ideias prontas, mas questionáveis, atropelando pessoas sem pudor até caminharmos solitários, um dia, pelas ruas da cidade. Cabeça baixa, passos lentos, fomos neurotizados pelas crenças de estranhos no ninho. Crença pesa em nosso existir. Crença nos deixa em câmera lenta ao insistirmos cegamente que estamos certos e o mundo inteiro está errado. Crença é carga excessiva.

REFLETINDO SOBRE PERDAS

 

Seria sempre sábio aproveitar momentos de luto familiar para refletirmos, onde a emoção não estiver em excesso, mesmo que não pareça propício. A perda de um ente querido desencadeia um turbilhão de emoções e pensamentos que abraçam a tristeza e o desespero, mas nada nos impede de viver o momento de luto em vez de transitar somente nos pensamentos de futuro sem aquela pessoa que se foi. Se somos nós que ficamos, é tempo de meditar sobre o que estamos fazendo com nossa vida, os motivos que nos fazem agradecer o estar vivo, os propósitos maiores que nos animam. É tempo de meditar nas consequências de nossos atos, nas escolhas conscientes ou inconscientes que fazemos e para onde elas nos levam diante da vida. É tempo de reavaliar como usamos nosso tempo para nos tornar pessoas melhores, para plantar e colher o que nos faz crescer, como lidamos com a pressa e com as pausas saudáveis. É tempo de rever o que deixamos até agora de legado pessoal no plano dos relacionamentos e laços afetivos, o que deixaremos como lembranças e referências de vida, o que criamos ou contribuímos com o mundo e vai dar frutos através dos beneficiados. Já que a vida é mesmo um sopro, que seja uma brisa de amor e lucidez.

 

 

SÍNDROME DO PEQUENO PODER

 

“Você sabe com quem está falando?”. Se não sabia, agora sabe. Você ouviu isso de uma pessoa com síndrome do pequeno poder. Você já foi num cartório de registro, onde eles lhe obrigaram a apresentar os documentos o mais rápido possível, mas levaram uma eternidade para assinar o projeto, com o Notário fazendo você de otário? Essa é a síndrome do pequeno poder. Você assistiu ao circo da CPI? Mais um clássico caso desta síndrome. Se sofreu bullying na escola, foi da parte de um doente com fome de pequeno poder. Homem bateu na esposa, humilhou a obesidade da namorada, bebeu mais de 12 garrafas de cerveja para impressionar os amigos, entrou para a torcida organizada violenta, pode diagnosticar sem medo, síndrome do pequeno poder. A lista é infinita. O Ser humano acredita somente medir seu valor pelo exercício do poder, grande ou pequeno, real ou imaginário.

SE EU FOSSE VEREADOR

 

Se eu fosse vereador, apresentaria um projeto para transformar os serviços voluntários de jovens e adolescentes em estágio não-remunerado, com validade de experiência para primeiro emprego. Certamente a área social seria a mais beneficiada no início do processo, mas nada impediria de se expandir para a agricultura familiar, para órgãos de serviços públicos, para cooperativas de arte e para escolas. Cada hora oferecida no voluntariado, receberia em troca não somente o aprendizado, mas também lições de responsabilidade social e humanismo, ampliando nos participantes jovens a visão de uma sociedade mais inclusiva e justa. O empresariado e o comércio local assinariam um acordo de absorção de mão de obra não especializada e em troca receberia benefícios fiscais da Prefeitura. Desta triangulação entre Empresas, Entidades e Prefeitura, nasceria uma fomentação orgânica de cidadania e sobrevivência, com um novo olhar para o futuro.

ONDE ESTÁ MARIA ALICE

 

Saber aonde você se encontra agora, na vida, é mais importante do que fazer planos sem realizar. Neste momento você está motivado a prosseguir ou está sem energia, está iniciando algo demorado ou concluindo algo que lhe consumiu todas as energias nos últimos anos, está aberto a novas possibilidades ou fechado para balanço na zona de conforto, está tirando de quem tem ou doando com gratidão, está dependendo dos outros ou tomando iniciativa, está construindo e cuidando de sua vida ou perdendo tempo demolindo reputações alheias, está reclamando de tudo ou decidindo passo a passo, está influenciando ou sendo influenciado, está pensando por si mesmo ou sendo pensado, está respeitando a natureza e o seu corpo ou se alimentando de relações tóxicas com desvios de comportamento, está morto sem saber que ainda vive ou querendo prolongar sua vida para fazer mais. Onde está você, está também o seu destino.