sexta-feira, 14 de outubro de 2022

ACONTECIMENTOS DO AMOR

 

Se eu tivesse, pois já nem sei se o tenho, um objeto humano de amor, em qual lugar o guardaria? Caixinha de joias são pequenas demais para o sentimento maior do mundo. Cofres são frios, reservam o segredo da insegurança de quem perdeu a liberdade por conquistar preciosidades. Coração se cansa descompassado, canta taquicardias, sofre fibrilações ou infartos repentinos e traiçoeiros. Casa não é lar. Certidão de casamento é dobrada e escondida na caixinha de pertences. Retratos se tornam motivos de crítica em sorrisos amarelos, guardados no escuro das gavetas. Na memória, deixo de viver o presente. Na saudade, valorizo a falta e priorizo a tristeza. Acontece que amor não necessita de lugar nem de ser guardado. Ele só aceita ser respirado, pois que é troca; absorvido, pois que é alimento; expirado, pois que é desapego saudável. O amor é um cão sem dono, solto pelas ruas coloridas da espera e da incerteza.