Antigamente as pessoas enviavam cartas aos próximos
mais distantes, sem saber que eram escritores. Abriam seu coração aos
sentimentos, encorajavam-se a escrever o que não tinham forças para ser dito
pessoalmente, explorando a intimidade pelas bordas, pela insinuação, pela
conquista e pela articulação fantasiosa. Perfumes eram vaporizados nas cartas
de amor, ainda que compartilhados com o carteiro desconhecido. Mães derramavam
amores sobre as linhas do papel, na esperança de trazerem o filho de volta.
Amigos atualizavam suas aventuras, disputando vantagens da idade. Notícias
familiares chegavam com bastante atraso; a filha que vai nascer já está sujando
fraldas, a viagem programada já foi esquecida por força das circunstâncias, a
consulta médica do próximo mês já virou medicamento.
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