A CASA DAS MIL MENTIRAS
Achava que a culpa era do ambiente, do país onde eu
havia nascido ou do núcleo familiar onde eu fora gerado, afinal é tão fácil
responsabilizar os outros pela nossa infelicidade. Meu alter ego revelou tudo.
Era tudo mentira, jogo de palavras e de comportamentos, auto enganação, trocas
afetivas imaginadas, promessas e cobranças, primeiras intenções, realidades
convidadas, tentações, tudo mentira deslavada e empacotada em papel de
presente. Meus dramas, mentira. Minhas emoções, mentira. Meus desejos, mentira.
Bem que me avisaram, tudo é vaidade, tudo é ilusão. De repente, bateu uma baita
contradição. Se tudo foi mentira, não deve haver motivos para condenação
eterna, muito menos céu e inferno. Se tudo foi mentira, só houve apego e
cinema. O corpo é uma casa sem dono, alugada por um espírito, mas habitada por
uma mente fugaz. Peguei carona nele. Acabou a viagem, fui deixado na cidade
vazia. O que restava de autopercepção, resumia-se novamente num rol de
mentiras, num cordel de representações. Só não sabia como viver agora sem
mentir.
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