O VOO QUE NUNCA CHEGOU
Foi sensação de voo, mas interminável, passageiro do
oculto mais óbvio do universo. Voar pela infância, sentindo-se amparado por
anjos e pela mãe de aluguel. Voar pela adolescência, sendo amparado pelo desejo
de outros corpos como autorreferência. Voar pela juventude, amparado pela
velocidade das conquistas sem propósito elevado. Voar pela idade adulta,
desamparado, buscando significância e perdão. Voar pelo passado recordável, mas
perdendo as paradas no que preferi esquecer. Voar pelo espaço branco do futuro,
sem mapa e sem brevê. Voar pelas realidades criadas, pela imaginação desejada,
pelos sonhos reciclados e pelos personagens caricatos de interação. Voar sem
chão para pousar, sem asas para turbinar, sem combustíveis para mudar direção
no caminho sem volta. Voo solitário. Voo sobre incógnitas sem radar. Curvas
desperdiçadas de medo, aterrissagens fracassadas, turbulência assustadora.
Sinto que não houve partida nem chegada, uma vez que não havia passageiros para
desembarcar na minha história. Pode continuar voando, disse alguém,
indefinidamente, até cair em si.
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