ONCOTÔ...ONCOVÔ
Parece um lugar, mas não é um lugar, pois não tem chão
nem matéria. Parece um país; não é o meu país de origem com certeza, mas posso
falar minha língua materna e ser compreendido. Os cinco sentidos foram todos
substituídos por um só, um que eu ainda não dei nome. Tudo vibra em som e luz,
onde a visão é determinada por frequências até para quem nunca estudou física
na vida e tudo é provisório sem sair do eterno. Vultos se movem sem
resistências, espalhando cores variadas por onde vagam. Penso que pensamentos
tem cores, átomos conversam entre si, plantas compartilham sabedoria, animais
se preparam para virar gente, músicas são mantras, paredes podem ser
atravessadas como se fossem feitas de nuvem, mas até o conceito ou percepção de
parede é diferente, é apenas uma expectativa de parede. Tive uma ligeira desconfiança
de que a percepção reina solene naqueles jardins, onde tudo o que existe ou
parece existir é para ser sentido e absorvido. Pensamos, concebemos, absorvemos
e dissolvemos infinitas possibilidades. O meio de transporte é a intenção. As
notícias e orientações nos chegam aos ouvidos espirituais por meio de ondas
escalares. O que os outros concebem, a gente percebe de relance, contempla, mas
logo desaparecem, talvez por nada nos pertencer nem pertencer a eles, talvez
apenas para serem registrados. Não faço a menor ideia de onde estou, mas não é
preciso.
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