quarta-feira, 6 de setembro de 2023

AUTOBIOGRAFIA DE UM MORTO (19)

 

OS NÚMEROS QUE FUGIRAM DA RÉGUA

De repente houve um agito naquelas paragens celestiais. O que eu entendera ser um dos céus, estava de novo completamente vazio. Todas as legiões de anjos e arcanjos tinham sido convocadas para apagar o fogo lá embaixo. Levaram trombetas, cavalos brancos, tropas de gafanhotos mecânicos, galões de sangue para tingir os mares, contêineres de tempestades, espadas de fogo líquido e outros objetos inomináveis diante de nosso espanto. Teríamos que aguardar as coisas serem resolvidas na Terra. E foram. Só ouvimos os estrondos dos combates, impedidos de assistirmos os eventos bíblicos serem confirmados. Foi um Deus nos acuda bem tardio, sem respostas. Quem vigiou, se safou. Quem zombou, apavorou até os intestinos. Quem acreditou, embarcou. A régua ia de zero a cento e quarenta e quatro mil. Os anjos que retornaram primeiro, sabiam de suas tarefas. Havia muito trabalho a ser feito. Boquiabertos sem boca, estupefatos sem olhos físicos, só testemunhávamos a organização dos ambientes de uma grande festa. Tudo era cuidado com pompas e glórias. O ar foi ficando rarefeito de amor incondicional. Minha alma torcia-se de expectativas diante do que se aproximava. Paciência era nossa melhor companhia.

 


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