terça-feira, 6 de dezembro de 2022

O JARDINEIRO QUE FAZIA CHOVER

 

Ele não usava macacão jardineira com suspensórios, apenas uma calça jeans, surrada pelos agachamentos e ajoelhamentos, diante do sagrado das flores. Adorava ficar sem camisa para receber beijos da brisa. Ele não usava botas especiais para evitar o chão lamacento, ao contrário, pisava o chão com a força dos dois pés descalços, em sístole e diástole, a barra da calça bebendo sedenta a terra disponível ao tecido. Ele não discriminava as plantas sem olhar de orvalho ou sem o perfume dos deuses, apenas as contemplava pacificamente como quem respeita as estações de cada ser vivo. O jardineiro, pouco visto de longe, tamanha sua interação com o jardim, misturava-se também com o som das abelhas, com o canto dos ventos, com o tilintar dos raios de sol e com a falta de pensamentos. Era um Deus cuidando de tudo nos sete dias da criação.


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