domingo, 10 de junho de 2012

OMISSÃO E FUGA


Em situações de debate intenso e polêmicas públicas, apresentamos sempre a tendência de omitirmos algo ou de fugirmos da essência em nome da opinião e da teimosia. São duas posturas naturais para o ato de pensar sob o domínio mental. Como agiria uma mente desperta diante de polêmicas?

Omitir significa não querer ver tudo, não querer se manifestar com medo de derrotas, não querer se expor ao ridículo, não querer revelar suas próprias misérias, não querer agir com liderança nem tomar a frente das discussões. Omitir é, por si mesma, uma postura de” vamos deixar como é que está para vermos como é que fica”. Algo semelhante à postura” eu não tenho nada a ver com isso”.

Fugir da essência significa abrir ou rasgar o verbo, colocar a outra pessoa na parede, enfrentar a emoção do contexto para desestabilizar o outro, denunciar a limitação do outro, jogar lenha no calor das palavras para fervilhar a discussão. Fugir da essência é se afundar na areia movediça das ideias que nunca se bastam. Fugir da essência é dar vida ao ego, inflar o ego, querer estar certo, matar na raiz a possibilidade de crescer em consciência, pois a própria verdade que se impor sobre os demais. Portanto, discutir com emoção é fugir sim da essência como se foge do sofrimento de perder a briga.

Se estar desperto é aceitar a realidade e o sofrimento que se manifesta interiormente, sem se deixar prender pelas palavras, ou se estar desperto é conviver com as surpresas da vida sem aumentar seu tamanho real, sem se tornar vegetal, então um ser desperto riria das discussões externas, com amor no coração para aceitar a limitação do outro e com lucidez e sabedoria na mente para vislumbrar a verdade de cada momento. Um ser desperto olharia para o momento seguinte sem se apegar ao que passou, consciente de que a vida está acontecendo e não pode ser desperdiçada pois é muito sagrada. Ao perceber a falta de consciência nas pessoas, ela se posicionaria pronta para trabalhar para o bem comum, com ações divinas, com palavras perfumadas, com doçura de alma, com silêncios gritantes de paixão pelo instante. Prefiro seguir este caminho até que um dia eu desperte. Prefiro virar as páginas da vida com a ternura de uma criança que lê seu primeiro livro.

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