segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

SOBRE MITOS, MONSTROS E SANTOS

 

O Mito é maior do que o homem que o veste. Ele é carregado pelos braços da fama, impossibilitando ao seu homem dar passos de herói quando necessário. O Mito é uma construção coletiva, cujo motivo de existir é a catalização dos sonhos de outrem, impossibilitados de discernir entre monstros e santos. O Mito toma palavras emprestado, luta contra os moinhos de ventos e semeia tempestades, contradizendo a própria narrativa em nome do título a ser sustentado. A força do Mito bebe de suas derrotas. Coitado do homem que o carrega, deve sofrer em silêncio e chorar em praça pública, nos poucos momentos em que é registrado pelos holofotes reservados ao Mito dominante. O Mito é orientado pelas multidões, questionado sempre que ameaçado pela concorrência, provocado a regurgitar a razão diante da estupidez humana. Ele não sobrevive sem audiência e seguidores. A ele são permitidas as quedas, os tombos, as ofensas e humilhações, os quais se tornam matéria prima de seu levantar gigante. O Mito anda de mãos dadas com o ego do homem que o sustenta, de olhos fixos nas oportunidades de ter função social, com orelhas abertas ao clamor do povo que o criou, com a boca pronta a dar voz a quem não tem. O Mito é um escravo dos poderosos, um laranja, a máscara daqueles que atuam sorrateiramente nos bastidores da macroeconomia. O homem dentro do Mito, jamais poderá ser ele mesmo.


Nenhum comentário: