Há quem ame a música, outros o teatro, outros a pintura, eu
a literatura. Em tantas outras expressões artísticas também existe sempre a
paixão ou o amor assumido por elas; há o compromisso de relação eterna com suas
manifestações; há a disposição de externar através delas o que se filtra no
olhar, o que se sente no espaço concentrado do Ser, o que se pensa sobre o
mundo e se valoriza como mensagem que se queira partilhar e perpetuar.
Quem ama as artes com ela respira, pulsa, acorda; por ela
fala, discute, combate; sem ela definha, murcha, se perde. Amar a arte é
expandir os sentidos, é esticar o tempo, é traduzir a linguagem das cores da
realidade e temperar o sabor das palavras, é reunir olhares sensíveis e dar voz
ao coração, é estimular o pensamento nas asas da criatividade, é conduzir
outras pessoas num passeio colorido pelas alamedas da imaginação. Amar as artes
é se fazer pincel e argila, se sentir caneta, se vestir de Shakespeare e se
arranjar em notas musicais. Amar as artes é registrar o absurdo, é desenhar o
imensurável, é recolher o mundo e oferecê-lo em aperitivos ou porções a quem
entende da vida.
Os artistas são os amantes do concreto e do abstrato, do
substantivo e dos predicados, das rimas e da liberdade, da intuição e da
técnica, da forma e do infinito. Os artistas são os engenheiros da métrica, os
médicos da alma, os professores da inspiração, os arquitetos de um mundo
melhor. Toda expressão artística é uma expressão de amor, é a definição
individual do belo, é a voz do silêncio que vem voando sutilmente e nos abraça
e nos enlaça, com a força do que se poderia ser se de repente a gente se
deixasse virar Deus.
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