O relógio é um objeto interessante. Ele vive em harmonia, ele
é concreto e abstrato ao mesmo tempo, ele existe para nos mostrar unicamente o
momento presente. Seus ponteiros são como pai e filho, um apontando o caminho
certo para o outro. Vem por aqui, diz ele. Sua engrenagem é interdependente, e
a união harmoniosa de esforços alcança equilíbrio pleno de funções.
Não é galo mas pode cantar as cinco da manhã, basta pedir.
Não é calendário mas registra o tempo no olhar. Não é líder mas coordena os
nossos passos. Não é algema mas sabe nos prender aos compromissos. Não é
cérebro mas substitui por vezes nossa memória. Não é mentira mas nos ajuda a
criar desculpas para sairmos de uma situação chata ou companhia desagradável. O
relógio é o único círculo que conquistou o quadrado das paredes e a profundeza
do olhar.
O relógio é o companheiro do rádio, do sino, do trabalhador,
do pulso, da torre, do relojoeiro, da elegância, do status, da pressa, do
contrato, do compromisso. O relógio é um objeto iluminado, dentro e fora da
água. Quando ele pára, mesmo parado chama a nossa atenção. Quando precisamos,
cessa o tempo para nós ou nos acelera o ritmo. A cada segundo o relógio repete:
o tempo, o tempo, o tempo, o tempo...
O que eu faço convida o relógio para estar presente. O
relógio me lembra a diferença entre o tempo ideal e o tempo gasto. O que eu
esqueço, o relógio me lembra. O relógio é universal em todos os países, em
todas as línguas, em todos pulsos, no campo ou na cidade, no fundo da mina ou
no alto dos edifícios, no carro em movimento ou no quarto escuro de dormir.
O relógio me avisa amorosamente que é hora de acordar, é
hora de escovar, é hora de tomar café, é hora de sair para o trabalho, hora de
acelerar o carro no trânsito intransitável para não perder a hora de bater o
cartão de ponto, hora do jantar, hora do noticiário, hora de fazer amor, hora
de dormir. Ele só não nos avisa que é hora de ser feliz e que todo tempo é hora
de amar alguém ou alguma coisa.
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