O amor pelo próprio corpo começa junto com a consciência de
se tê-lo. Amor e descoberta andam juntos a vida inteira, unidos pelas
manifestações e sensações corporais. É da familiaridade com ele que se alcança níveis
profundos de intimidade e prazer consigo e com outros corpos. É da liberdade ou
libertinagem com o próprio corpo que se experimenta a entrega e o abuso, a
segurança e a baixa estima, o amor e o profano. O corpo é altar de nossas
interpretações do mundo a partir do que concebemos ou aceitamos como nossa
identidade ou nossa voz.
Se amamos o corpo, sua forma, seus cheiros e líquidos, seus
contornos e relevos, sua temperatura e sabores, é porque o corpo é o
instrumento de resposta imediata a qualquer tipo de estímulo externo. O corpo dialoga
com os estímulos, convidando-os a se tornarem experiências passageiras, pois
acredita que a vida é fugaz. O corpo se oferece aos estímulos externos na
expectativa de se transcender e ultrapassar as fronteiras da pele. O corpo se
disponibiliza à experiência sensual de outros corpos na tentativa de aprender
todos os meandros do amor e outras formas de comunicação. O corpo pulsa em
todas as esferas para se confundir com esta consciência amorosa até alcançar
sentidos mais elevados para sua existência.
O corpo nos leva, domina ou é dominado, sangra ou sua, geme
ou canta, anda ou dorme, esquece de si e envelhece, absorve ou elimina, clama
ou rejeita, abraça ou bate, contempla ou esmaga, silencia ou faz falar. O corpo
é linguagem das vicissitudes da vida, é cinza sonhando com as cores da
ressurreição, é porto de ancorar memórias e de deixar partir destinos que um
dia serão esquecidos. O corpo, amado ou desvalorizado, é o que você fizer dele.
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