sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

ENTREVISTA EM SONHO

 

O mundo está doente e recusa ser curado. A cura só vem pelo amor, mas hoje em dia ninguém mais sabe o que é amar sem pedir nada em troca. Quando o paciente acredita ser Médico, ele faz do Médico o paciente, o pior dos pacientes, por não receitar a esperança, por faze-lo acreditar que nada pode ser mudado, pois tudo é pura representação e simulação de uma tragédia cinematográfica, com recordes de bilheteria. O autoengano é alimentado com pipocas e refrigerantes. Todos assistem passivos ao filme de hecatombe nuclear, usando máscaras 3D, sem saber que, a qualquer momento, aquele cinema vai ser bombardeado por forças ocultas.

O mundo está ausente de vontades saudáveis. Alguns que conquistaram mais do que precisavam, hoje repousam com câncer, num apartamento, solitários. Os que foram subjugados pelos conquistadores, hoje se anestesiam diante dos poucos bens materiais que levaram consigo sua alma. Desumanizados, todos vagueiam sonâmbulos sem noção de perigo.

O amor sumiu das prateleiras. A esperança partida, partiu. O autoengano é distribuído em bolsas sociais. As vontades saudáveis caíram no esquecimento. No sonho, a afogada famosa anunciou a própria morte aos milhões de seguidores e ninguém fez nada. Mesmo assim, o entrevistador sorria, ao vivo, procurando pelo que sobrou de verdade nos olhos da população. Eu, sem entender a mim mesmo, vesti meu personagem de indignado, com roupas de marca, e disse ao repórter que o mundo está doente e recusa ser curado.


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