Hora de nascer, este
processo desconhecido para os nascituros, dentro de um útero taciturno que se
acostumou com meu coraçãozinho batendo. Hora de sair da formatação de ponto de
interrogação fetal e adentrar o território infindável das perguntas
inevitáveis. Hora de abandonar o cômodo exclusivo, para povoar os bandos
familiares que não escolhi. Hora de doer narinas, conhecer a gravidade,
sujeitar-me ao sujo do sangue, sem saber que mais tarde outras partes do corpo também
doerão, conhecerei a força do desequilíbrio e suas consequências, olharei com
olhos de terror para qualquer sangue derramado. Hora de ser aconchegado pelo
manto de paradigmas e paradoxos, sincronicidades e contradições. Hora de ser
banhado com ternura de boas-vindas, com a água simulada, com o medo de me
tornar água suja e ser levado pelo ralo. Hora de dormir, o máximo possível, pois
ainda não estou pronto para consumo.
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