quinta-feira, 13 de outubro de 2022

HORA DE NASCER

 

Hora de nascer, este processo desconhecido para os nascituros, dentro de um útero taciturno que se acostumou com meu coraçãozinho batendo. Hora de sair da formatação de ponto de interrogação fetal e adentrar o território infindável das perguntas inevitáveis. Hora de abandonar o cômodo exclusivo, para povoar os bandos familiares que não escolhi. Hora de doer narinas, conhecer a gravidade, sujeitar-me ao sujo do sangue, sem saber que mais tarde outras partes do corpo também doerão, conhecerei a força do desequilíbrio e suas consequências, olharei com olhos de terror para qualquer sangue derramado. Hora de ser aconchegado pelo manto de paradigmas e paradoxos, sincronicidades e contradições. Hora de ser banhado com ternura de boas-vindas, com a água simulada, com o medo de me tornar água suja e ser levado pelo ralo. Hora de dormir, o máximo possível, pois ainda não estou pronto para consumo.

 


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