Quisera eu ser mais insolúvel
e satírico para sobreviver no mundo das feras. Elas estão soltas nas esquinas,
trazendo perigo para meus sonhos, espalhadas pelos jornais para denunciar
perigo iminente, enferrujadas nas conversas de bar ou entre amigos, travestidas
de máscaras singelas na cara dos lobos. Por causa delas, ficamos fechados na
casa, cercada de concertinas e câmeras de segurança, deixando de usar o que
gostaríamos de nos adornar, temendo estar vivo para que não nos matem na
próxima hora escura. Inconscientes de sobreviver numa jaula, pouco a pouco nos
transformamos também em feras. Impossibilitados de praticar atos violentos por
crenças morais, afiamos a lâmina da língua, envenenamos as palavras que brotam
verdes de nossa boca, destruímos reputações, alimentamos pensamentos
intolerantes, rasgamos o tecido social e terceirizamos a prática do bem para
governos socialistas. Viver no mundo das feras humanas não é tarefa para
principiantes amadores.
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