terça-feira, 18 de outubro de 2022

COMO SE FOSSE UM DESTINO (1)

 

“Vai, filha, já lhe dei meu útero, seu corpo e a alma, o restinho é para você conquistar e concluir esta tarefa de estar viva. O resto, embora pareça descartável ou desimportante, encerra a cereja do bolo, deliciosa e cobiçada por muitos. Caberá a si, escolher ou se adaptar. Caberá a si, cair e se levantar, distribuir permissões ou sofrer intromissões, ser livre de si ou ser posse de alguém. Muitos chegarão na casa de seu coração, sem trazer qualquer significância; outros arrancarão lágrimas de seu rosto com a mesma frieza com que o serralheiro corta a árvore com motosserra. Muitos dirão que você é árvore, fuja deles. Você é semente, mas sofrerá um pouquinho, antes de romper a superfície da terra que a germinar. Se acaso mais tarde virar árvore, saiba que sua vida acabou, pois vida é destinação e não o destino em si”.


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