Em dias de enchente
O rio vomitava casas
E hipnotizava gado em
redemoinhos.
Em dias de enchente
Dona Rosário perdia tudo e
não chorava
Só para não engordar o
rio.
Nozinho e eu, agarrados
No galho grosso da árvore
afogada,
Só queríamos parar o rio
com os pés.
Não havia perigo.
Tudo era natural, né
Nozinho.
Sempre adorei as
enchentes.
Elas me enchiam de circo e
de cinema.
Após a tempestade
O rio virava caligrafia
chinesa.
Pronto a nos afogar em
seus mistérios
De renovação e pressa,
Ele afrontava os
descaminhos dos peixes
Para um dia poder
multiplicar os homens.
O rio desrealiza os
endereços
Com sua língua de lagarto
E com seus dentes de
crocodilo.
Há uma beleza trágica em
suas gengivas.
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