Se eu tivesse, pois já nem
sei se o tenho, um objeto humano de amor, em qual lugar o guardaria? Caixinha
de joias são pequenas demais para o sentimento maior do mundo. Cofres são
frios, reservam o segredo da insegurança de quem perdeu a liberdade por
conquistar preciosidades. Coração se cansa descompassado, canta taquicardias,
sofre fibrilações ou infartos repentinos e traiçoeiros. Casa não é lar. Certidão
de casamento é dobrada e escondida na caixinha de pertences. Retratos se tornam
motivos de crítica em sorrisos amarelos, guardados no escuro das gavetas. Na
memória, deixo de viver o presente. Na saudade, valorizo a falta e priorizo a
tristeza. Acontece que amor não necessita de lugar nem de ser guardado. Ele só
aceita ser respirado, pois que é troca; absorvido, pois que é alimento;
expirado, pois que é desapego saudável. O amor é um cão sem dono, solto pelas
ruas coloridas da espera e da incerteza.
Um comentário:
Ah, a amor...
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