quarta-feira, 4 de julho de 2012

SENTIDO E CONSCIÊNCIA


Quando a vida encontra seu sentido de forma consciente, mesmo que provisório, o sofrimento também tem seu sentido, mesmo que ele não seja consciente durante as dificuldades. O sofrimento pode ser comparado ao ato paciente de burilar uma gema preciosa. O que parece ser dolorido está em verdade moldando e fortalecendo uma nova forma de existir, dando novas perspectivas ao objeto do sofrimento. A vida, portanto, sabe aproveitar a experiência sofrível para se redirecionar diante das escolhas de seu destino, muito embora o sofrimento seja opcional e não necessite ser obrigatório para a evolução.

Detectar alguma forma de sofrimento consiste numa oportunidade de traçar um novo rumo. Cada evento que nos lança no ringue da dor emocional tem o progresso pessoal como torcida barulhenta. Ele revela nosso despreparo para a realidade óbvia, nossa dificuldade em se ajustar às novas situações desafiantes, uma vez que amplifica as limitações dos outros e nos afeta em nossas afetividades. Ele nos alerta para o lado possessivo de nosso amor e nosso apego ao sentimento de culpa. Ele nos obriga a rever nossas crenças, valores, prioridades e sonhos.

Cada evento sofrível é uma porta fechada diante de nossos olhos abertos ou uma porta aberta diante de nossos olhos fechados. Cada sofrimento é uma oportunidade de cavarmos mais fundo uma situação, até revelar novas formas de interação com a verdade que teimamos em não aceitar. Por isso, durante o sofrimento fica difícil encontrar o sentido dele e da vida. Uma vez descobertas novas interpretações do evento, sem o exagero emocional, podemos transitar pelos acontecimentos indesejáveis com mais desenvoltura e segurança, com mais firmeza de propósitos e clareza de intenção, com menos identificação com as perdas causadas pelo sofrimento.

Sem apego ou identificação, sobra mais energia para outras ações e surge a coragem de prosseguir vivendo. Assim descobrimos que o sentido da vida já existia e sempre existiu, que nunca o inventamos, que o sentido só precisava ou precisa ser encontrado em algum lugar escondido do coração. Uma vez libertos da mente, libertos também das emoções desequilibradas e dos pensamentos repetitivos de injustiça. 

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