Quando a vida encontra
seu sentido de forma consciente, mesmo que provisório, o sofrimento também tem
seu sentido, mesmo que ele não seja consciente durante as dificuldades. O
sofrimento pode ser comparado ao ato paciente de burilar uma gema preciosa. O
que parece ser dolorido está em verdade moldando e fortalecendo uma nova forma
de existir, dando novas perspectivas ao objeto do sofrimento. A vida, portanto,
sabe aproveitar a experiência sofrível para se redirecionar diante das escolhas
de seu destino, muito embora o sofrimento seja opcional e não necessite ser
obrigatório para a evolução.
Detectar alguma forma de
sofrimento consiste numa oportunidade de traçar um novo rumo. Cada evento que
nos lança no ringue da dor emocional tem o progresso pessoal como torcida
barulhenta. Ele revela nosso despreparo para a realidade óbvia, nossa
dificuldade em se ajustar às novas situações desafiantes, uma vez que amplifica
as limitações dos outros e nos afeta em nossas afetividades. Ele nos alerta
para o lado possessivo de nosso amor e nosso apego ao sentimento de culpa. Ele
nos obriga a rever nossas crenças, valores, prioridades e sonhos.
Cada evento sofrível é
uma porta fechada diante de nossos olhos abertos ou uma porta aberta diante de
nossos olhos fechados. Cada sofrimento é uma oportunidade de cavarmos mais
fundo uma situação, até revelar novas formas de interação com a verdade que
teimamos em não aceitar. Por isso, durante o sofrimento fica difícil encontrar
o sentido dele e da vida. Uma vez descobertas novas interpretações do evento,
sem o exagero emocional, podemos transitar pelos acontecimentos indesejáveis
com mais desenvoltura e segurança, com mais firmeza de propósitos e clareza de
intenção, com menos identificação com as perdas causadas pelo sofrimento.
Sem apego ou
identificação, sobra mais energia para outras ações e surge a coragem de
prosseguir vivendo. Assim descobrimos que o sentido da vida já existia e sempre
existiu, que nunca o inventamos, que o sentido só precisava ou precisa ser
encontrado em algum lugar escondido do coração. Uma vez libertos da mente,
libertos também das emoções desequilibradas e dos pensamentos repetitivos de
injustiça.
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