O que eu me tornei ou
sou é mais forte do que as coisas que fiz ou as palavras que disse. As palavras
podem ou não ter o poder de convencer, de induzir, de bloquear, de acalantar,
de afastar, de alimentar, de destruir, de renovar, mas seu efeito nunca será
duradouro. As palavras contarão com a sedução do argumento, com o prazer
momentâneo das hipóteses, com a força dos medos e com o voo livre dos sonhos.
Eventualmente serão substituídas por outras palavras e ideias.
As ações podem ser mais
duradouras, mas estarão vinculadas a outras atitudes, outros resultados e resultantes,
outras situações, recursos, outras intenções e metas, outras interpretações,
necessidades, decisões, enfim, será fruto e fará frutos de acordo com a
interação entre duas ou mais pessoas instáveis e inconstantes. As ações um dia
poderão ser esquecidas na gaveta do tempo e na pressa dos egoísmos.
O que eu sou, aquela
realidade irreversível e ferrenha do que me tornei, será o palco de minhas
ações e palavras no mundo, será o pano de fundo de meus olhares, será a
gramática de minhas leituras sobre a realidade, será minha assinatura de
caráter e prevalecerá com a passagem do tempo, mesmo que eu utilize mentiras,
manipulações, omissões ou ilusões.
Aquilo que eu sou servirá de modelo para os
aprendizes sedentos, servirá de alimento para o coração mais atento, servirá de
luz para quem cansou da escuridão. O que eu sou, esta parcela da verdade
inconteste que até uma criança perceberia, manifesta-se em minha aura pessoal,
extravasa-se feito mel escorrendo na boca do mundo ou feito fel amargando os
nossos infernos mais íntimos. O que eu sou, me acompanhará tal qual a minha
sombra física diante do sol da realidade, me revelará no silêncio dos
julgamentos ou do discernimento amoroso, me descreverá para o mundo pelo
perfume que eu exalar em cada gesto, em cada ato, em cada movimento. Aquilo que
eu sou não é rótulo. É minha retidão torta.
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