Nasce uma geração
psicótica, fruto da fuga da realidade indesejada. Tempos sombrios, irracionais,
tempos inconscientes, tempos bárbaros. Pessoas insanas, incapazes de valorizar
a vida, invadem a imaginação e jogam violência urbana como se fosse um vídeo game,
adotam bonecos de silicone como se fossem gente, políticos mentem como se fosse
oração, laboratórios farmacêuticos injetam crianças com metais pesados, tiranos
assumem o poder para imitar Hitler, alimentos de plástico são distribuídos para
viciar consumo, velhinhos vulneráveis são roubados pelo Sistema. Estamos
testemunhando o início de uma barbárie coletiva de autodestruição, com futuro
inconsequente e imprevisível. Agora entendo porque o Apocalipse de São João
falava em sobrevivência de apenas 144 mil pessoas. Agora entendo porque esta
mesma Bíblia dizia para não olharmos para trás na hora H e não tentar resgatar
ninguém. Paredes não falam, mas a estupidez se ensandece com vigor e o caos é
fascinante de se entender.
Não existe criança
interior, conceito colocado em nossa cabeça pelo sistema de saúde mental. Existe
memória de infância, boa ou traumática. Existe adulto com emoções
infantilizadas, desde aquele jovem com problema na fala, passando pela troca de
papeis entre os casais, percorrendo a identificação de pessoas com animais,
adotando bebês reborn, inutilizando as relações afetivas como troca saudável e
fugindo das responsabilidades pela vida e pelo planeta que nos abriga. Existe a
escolha de cada indivíduo, ao buscar seus próprios recursos para lidar com as
perdas e para sobreviver numa sociedade insana. Existe o saudável e o doentio,
o equilibrado e o desequilibrado, o consciente e o inconsciente. Estes adultos
infantilizados estão se alastrando e ganhando voz na mídia social, a qual vive
de likes e seguidores para converter em dinheiro. O sábio interior está fora do
radar desta galera.
Ao desvalorizarmos a vida,
automaticamente valorizamos a morte, a ruptura, a quebra, a perversão, a
alucinação, o caos, a histeria. Todo este padrão coletivo de normatização
também está refletido na arte contemporânea, cuja melhor definição é a palavra Híbrida.
Das pessoas com partes mecânicas aos computadores com características humanas,
da humanização dos pets ao namoro japonês entre humanos e robôs, toda forma de
hibridização, aceita como norma contemporânea, explica o que se passa com o
coletivo nos dias de hoje. Precisamos digerir o caos com dentes de diamante se
quisermos permanecer lúcidos.