O ser humano é uma criatura de hábitos. Facilmente ele implementa um hábito que acaba se tornando vício, se não tiver força de vontade e opinião firmes. Para piorar as coisas, a sociedade torna-se tolerante com alguns deles em nome do capitalismo e intolerante com outros em nome do moralismo.
Se um jogo vicia algumas pessoas, com pendor para o descontrole emocional e para a busca insana do ganho pelo excesso de ansiedade, por que a sociedade permite os jogos de loteria e proíbe o jogo do bicho ou os cassinos? Quem nunca viu um mendigo jogando na loteria toda a esmola recebida no dia? Se o lucro fácil do povão é proibido em algumas atividades de bingo e rifas, por que o lucro fácil de comissões de políticos não recebe o mesmo tratamento? É um jogo de influência, não é mesmo? Quem nunca ouviu casos de pessoas aposentadas com salário mínimo doarem quatrocentos reais para o pastor que diz estar em dificuldades na igreja deles? Dinheiro vai, dinheiro vem, e os mais espertos burlam as leis sem punição. A incoerência passa despercebida entre os incautos. Jogo é jogo. Ou todos deveriam ser proibidos.
O vício esconde a raiz emocional, a fonte de inquietação dentro da psique humana, o trauma vergonhoso quando se sentiu desprotegida. O vício mascara a necessidade de mudança na auto imagem, a não aceitação de si mesma, o sentimento de inferioridade, a oportunidade de manifestar comportamentos duvidosos e instintos menos nobres. Ele revela a fraqueza muscular da vontade como força de identidade, mas traduz a força do hábito despistado em outros contextos. Seria mais interessante ao viciado perceber que a mesma força, de dizer sim às drogas ou bebida alcoólica, pode ser usada para dizer não a elas. Basta mudar o foco e manter o fluxo da vontade.
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