domingo, 4 de março de 2012

MAL ENTENDIDOS

A vida nos parece uma sucessão de mal entendidos devido à existência de tantos conflitos nos relacionamentos. Tal qual um ruído de comunicação, agravado pela sensibilidade de alguns e pela maldade disfarçada de outros, os mal entendidos são responsáveis pela criação de expectativas irreais que nunca vêm a ser satisfeitas. Eles são muito mais intensos e constantes do que imaginamos. São diários.

O ato da concepção, por não ser algo controlado ou consciente, pode ocorrer  com mal entendidos entre prazer e posse, entre relaxamento e amor, entre obrigatoriedade e entrega sem a intenção de engravidar. A infância, mundo de descobertas e fantasias, tempo de aprendizado e práticas, favorece mais do que nunca o florescimento de mal entendidos devido à imaturidade de pais e filhos no que diz respeito à educação de valores e costumes. A adolescência, tempo de definição da personalidade dominante que é fruto dos condicionamentos sociais, torna-se o palco mundial dos conflitos pessoais, gerando mal entendidos em todos os aspectos da vida. A juventude, fase de socialização e perseguição dos sonhos, é farta de mal entendidos devido à falta de experiência associada com impetuosidade e impulsividade, devido aos choques de interesses entre as pessoas num ambiente social de competição por um lugar ao sol, devido ao egoísmo que impera nos relacionamentos amorosos. A maturidade, tempo de assentamentos pessoais, época de cobrança de comportamentos baseados em compromissos passados, produz mal entendidos a todo momento, com o acúmulo de experiências individuais e com o distanciamento dos casais em termos de escolhas de crescimento.

Nascemos, vivemos e morremos produzindo mal entendidos. Passamos a maior parte de nossa vida cultivando o achismo, emitindo opiniões até quando não somos solicitados, assumindo conclusões apressadas, colocando palavras na boca das outras pessoas, fazendo comentários ácidos ou irônicos, exigindo que sintam por nós algo diferente do que sentem. Os mal entendidos acontecem principalmente quando contam conosco para o que der e vier, mas a realidade não é bem assim. Culpe a mente pelos mal entendidos. Culpe-a por que ela nunca entendeu quem verdadeiramente somos.

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