Você sabia que baunilha é um extrato de orquídea? E que amor é um extrato do coração? E que consciência é um extrato de Deus? Sabendo ou não, comemos bolo de baunilha, colhemos orquídeas do jardim do vizinho, amamos sem questionar de onde ele vem e buscamos ter mais consciência de como ter amizade com o Pai Eterno.
Extrato é substância, essência, alma, conteúdo, miolo, cerne, razão de viver. Pelo extrato das coisas nos alimentamos. Pelo extrato dos sentimentos nos relacionamos. Pelo extrato da consciência nos aproximamos da verdade absoluta e fugimos da verdade relativa. Adoramos caminhar da superfície às profundezas do destino, embora a beleza nos cause estranha distração. Adoramos a horizontalidade das paixões, mas sempre buscamos o salto vertical da entrega completa a quem nos encantou. Vivemos desta busca incessante de fragrâncias eternas, aromas passageiros, nuances indeléveis. Somos jardineiros incansáveis e contempladores do milagre da vida. Sementes somos.
Se me dissessem que o coração incendeia a alma quando escrevemos poesia, eu acreditaria, pois que me ardo constantemente em fogo brando. Se me dissessem que a consciência é uma dádiva que não se busca pelos esforços, mas que se colhe no repouso interior daqueles que absorveram a devoção, eu acreditaria, pois que ainda me ajoelho diante da hoste celestial. Ainda que nada me dissessem, ainda que nenhum perfume exalasse dos homens mais descuidados de si, confesso que continuaria a cuidar de meus jardins e de todo arco-íris que dele brotasse sobre os meus dedos, enquanto o coração batesse sozinho sem me pertencer. Eu, jardineiro das estrelas. Eu, jardineiro sonhador. Eu, jardineiro vendedor de ilusões.
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