Muito embora as pessoas gostem de fama, melancia no pescoço e significância, frutos da prática errada das comparações, elas também passam pela outra polaridade, em seu desejo inconsciente de ser nada, nos momentos de fraqueza ou esgotamento de forças, humildade e religiosidade.
O suicídio é um movimento interno de querer ser nada, de desistir de tudo o que nos foi ensinado, de abandonar nossos relacionamentos para mergulhar profundamente na escuridão e nela se dissolver, evitando a força e as lições valiosas do sofrimento. É um momento de fraqueza existencial, diante da aproximação da verdade inquestionável de que somos pura ilusão. Se fosse consciente, reverteria a vontade de se matar e se entregaria à espiritualidade como ferramenta de eliminação da separação.
A loucura mental é outro desejo inconsciente de ser nada. Houve um estado tão grande de confusão conceitual, um afastamento do próprio coração, uma identificação imensa com a negatividade e a vitimização, uma escolha absurda pelo controle de coisas e situações incontroláveis, uma negação da fé e da esperança no amanhã, uma alteração bioquímica provocada por vícios, a tal ponto que a única saída foi se anular, se perder na auto-definição, se vestir de outros personagens ou morar nas ruas para não ter endereço, ou se esconder no quarto onde não possa ser encontrado ou resgatado pela sanidade.
A religiosidade também expressa este desejo inconsciente das pessoas, passando pela aceitação de ter uma origem suja e pecaminosa, seguindo regras rígidas e acreditando em dogmas, tornando-se ovelhas pacíficas e obedientes, cultivando o medo da danação infernal ou exaltando o próprio calvário urbano com a morte e a redenção como prêmios. Neste processo inconsciente de ser nada, a fé se torna robusta até que nos devore como a esfinge do deserto. Seja através da religiosidade, do suicídio ou da loucura mental, o ser humano sempre encontra o caminho mais curto quando ele quer se perder de si. Portanto, não tenham medo de ser nada, desde que se faça bom uso deste nada. Um copo cheio não tem lugar para coisas novas. É somente no nada que se cabe o tudo.
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