Ontem vivi um dia raro.
Fiz pouco. Permiti a mim mesmo saber para onde correr, ou melhor, onde ficar.
Deixei meu corpo descansar, mesmo tendo esquecido mentalmente como se descansa.
Comi apenas o que estava pronto, só para não ter que buscar receitas no
youtube. Matei o futuro, sem culpas, sem esperança, sem medo. Desliguei todas
as fontes de informação, até esqueci a cadeira na chuva. Nada havia na memória.
Como é bom fazer pouco, diferente de fazer pouco de si ao fazer muito pelo
mundo. Como é bom amarrar os ponteiros do relógio, se é que ainda existem nas
paredes e nos pulsos de poucos. Como é bom olhar para as paredes sem relógios e
saber que sou eu o que antes chamava de tempo. Como é delicioso olhar o teclado
de soslaio e dizer “hoje não” com alegria no coração, fazendo jejum de tecnologia
sem sentir fome. Ontem vivi muito por ter feito pouco. Havia um “eu” solto e
leve no ar, pensando ser nuvem, apenas conjugando dois verbos, o ser e o estar.
Estava confortável tirar férias dos desconfortos. Estava eu pleno.
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