quarta-feira, 28 de setembro de 2022

TRADUÇÃO INTERROMPIDA

 

Estava eu sentado numa lombada do mundo. Não era bem eu, mas o que sobrara de mim. Não sei se foi o tempo ou o esquecimento que levaram partes importantes e podadas do meu corpo, o tempo este jardineiro e o amarelo esta cor do passado. Ninguém notara minha ausência naquela cidade vazia. Foi quando dei conta do quanto o vento sabe mais de mim do que meus familiares e amigos. Foi quando entendi que as cidades eram habitadas mais por vazios do que por esquinas, as ruas feitas de ausentes e as casas construídas para a ruina em si. Foi quando a cidade sussurrou nas minhas vértebras o quanto eu nasci para preencher lacunas do Ser. Parecia estar cumprindo metáforas de um livro qualquer sem leitores. E eu não conseguia me traduzir por inteiro.


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