segunda-feira, 26 de setembro de 2022

POEMA DOS ZUMBIS

 

De mãos atadas, de passos perdidos e de olhos vendados, estão todos aqueles que só olham para seus umbigos. Tudo deixado de dizer, ainda fermenta em gélida ebulição nos confins da mente. Tudo o que deixaram de fazer, ainda morre diariamente quando se deitam. Por não alcançarem seus avessos, por não despertarem pesadelos, fica neles escondido, entre as vísceras, algo para ser enterrado vivo e não se cansa de ser bombeado inúmeras vezes para o coração cansado. O egoísmo é a marca registrada dos zumbis contemporâneos. Eles têm fome de si mesmos e nunca serão saciados. Dormem nos jardins uterinos abandonados. Gravitam insones a trajetória repetitiva de seu plexo. O umbigo, este desconhecido do amor incondicionado, resumiu-se eternamente a um cordão, ligado aos buracos negros indecifrados.

 


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