domingo, 9 de janeiro de 2022

DISSOLVE, ENGOLE, DESINTEGRA (1)

 

O ego dissolve a verdade em fragmentos escuros que se separam de vez, sem ficar vermelho de vergonha pelo que fez e faz. Ele engole a razão sem salivação, sem mastigar completamente cada ângulo de percepção, desde que continue com a palavra final. Ele desintegra as emoções com maestria, fazendo o absurdo parecer natural. A mente mediana dissolve o tempo em presente-passado-futuro para organizar as experiências, validando as memórias como o supra sumo da vida. Ela engole os fracassos, os erros, os imprevistos que chama de destino e escreve errado por linhas retas. Ela desintegra o que organizou diante da dor e do prazer, pelo simples gosto de permanecer no comando. A mente subconsciente dissolve a gramática e o sistema, deliciando-se com símbolos e metáforas, sonhos e fantasias, na pressa de conjugar todos os verbos de uma só vez. Ela engole o entendimento e poda suas raízes para poder voar. Ela desintegra a história e cria estórias inacabadas, sem leitor que as traduza corretamente. A mente inconsciente dissolve a coragem de enfrentar as experiências e parte para o jogo sem regras claras. Ela engole a saúde mental, achando que faz bem ao indivíduo praticar o controle daquilo que não pode ser controlado. Ela desintegra o passado em pesadelos e manipulações, mentiras e distrações, na ânsia de proteger o vazio que se formou. Cada aspecto da mente dialoga de formas diferentes.


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