O Mito é maior do que o
homem que o veste. Ele é carregado pelos braços da fama, impossibilitando ao
seu homem dar passos de herói quando necessário. O Mito é uma construção
coletiva, cujo motivo de existir é a catalização dos sonhos de outrem,
impossibilitados de discernir entre monstros e santos. O Mito toma palavras
emprestado, luta contra os moinhos de ventos e semeia tempestades, contradizendo
a própria narrativa em nome do título a ser sustentado. A força do Mito bebe de
suas derrotas. Coitado do homem que o carrega, deve sofrer em silêncio e chorar
em praça pública, nos poucos momentos em que é registrado pelos holofotes
reservados ao Mito dominante. O Mito é orientado pelas multidões, questionado
sempre que ameaçado pela concorrência, provocado a regurgitar a razão diante da
estupidez humana. Ele não sobrevive sem audiência e seguidores. A ele são
permitidas as quedas, os tombos, as ofensas e humilhações, os quais se tornam
matéria prima de seu levantar gigante. O Mito anda de mãos dadas com o ego do
homem que o sustenta, de olhos fixos nas oportunidades de ter função social,
com orelhas abertas ao clamor do povo que o criou, com a boca pronta a dar voz
a quem não tem. O Mito é um escravo dos poderosos, um laranja, a máscara
daqueles que atuam sorrateiramente nos bastidores da macroeconomia. O homem
dentro do Mito, jamais poderá ser ele mesmo.
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