segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

OLHOS ETERNOS, LUGARES DE ABISMAR

 

Depois de longos vazios, preenchidos pela marca do adeus, o casal finalmente se reencontrou no campo santo local. Fechados no túmulo de si mesmos, não houve estardalhaço naquele fatídico dia. Afinal, os ouvidos do morto estavam cansados de tanto ela choramingar por anos a fio. Bem que ela foi preparada com as roupas que escolheu, seu último desejo, as flores eram belas por vinte quatro horas, tempo suficiente para sair do corpo e vagar à procura de seu amor eterno, como costumava declarar em vida. Tinham um encontro marcado na periferia da estrela Dalva, citada em uma de suas canções preferidas. Era um espaço escuro aqui e outro azul místico ali. Fechados no túmulo de si mesmos, com língua e sem palavras, poderiam decompor o passado sob as águas lacrimais dos familiares, quem sabe serem esquecidos na semana seguinte após o passamento. Abertos em si na esfera celestial, um novo departamento dimensional os receberia com vultos felizes e vibrações sutis, enfileirados, todos prontos para prosseguir a grande viagem. Surpresos por não ficarem tão sozinhos na eternidade, o quanto haviam imaginado, deram-se os olhos e sorriram em cumplicidade...mais uma vez.


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