O pensamento das pessoas
pode confundir a leitura da realidade. O pensamento age feito cipó,
retorcendo-se, exaurindo-se, secando a fonte de possibilidades ao se tornar
ilusório e obsessivo. A distância da realidade torna opaco o caminho, cria
isolamento e culpa, busca reforço para sustentar a fantasia e abala conexões
gerando desconexões irreparáveis.
Nem tudo é o que parece
de perto. Nem toda leitura é isenta de apegos, inconsistências, conflitos,
choques de opiniões, tendências falaciosas, registros vencidos do passado,
carências, condicionamentos, mecanismos de defesa, busca pela racionalidade em
territórios emocionais e vice versa. Nem tudo é como o que foi concebido no
silêncio de um quarto impregnado de imaginação. Por isso as pessoas pisam no
tomate e escorregam na maionese na hora de checar a informação que vem dos
outros.
Quando conferimos a
realidade precisamos respirar humildade, precisamos reconhecer que nem tudo são
flores, nem tudo cabe em nosso espaço individual. Enxergamos que o sonho vive
de lembranças fugidias, que a vida vive de movimentos aleatórios, que o tempo
vive de pegadas quentes e recentes. Ao conferir a realidade lembramo-nos dos
pés, do chão, do relevo, do equilíbrio e da natureza verdadeira das ações. A
realidade prevalece sobre os pensamentos idealizados, mesmo que a gente insista
em mentir para nós mesmos. A realidade nos cobra a verdade dos fatos, a revisão
das necessidades pessoais, os sentimentos dos outros distorcidos em nossas
leituras interessadas. A realidade cozinha o dia em banho Maria, até que a fome
de existir nos dê um sinal de que não somos os únicos a desler nossas
experiências mais caóticas. Agora só falta respirar e erguer a cabeça
novamente.
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