Existe
uma coisa em que raramente prestamos atenção. A maneira como aprendemos a nos
relacionar em casa tem muito a ver com a maneira como nos relacionamos no
trabalho e no convívio social. Ou repetimos o nosso comportamento, ou lá fora
imitamos o comportamento de outro membro da família. Neste segundo caso, já
ouvimos alguém falar que o fulano age completamente diferente na rua, como se
fosse duas pessoas distintas. Trata-se das dinâmicas familiares, as quais
moldam a criança, desafiam o adolescente e confundem o adulto.
Devido
à falta de autenticidade ou despreparo de alguns pais no trato e na educação
dos filhos, a mentira se
faz necessária e se torna um recurso para sobreviver emocionalmente. Da
mentirinha à mentirona, a galinha enche o papo. Criança vê, criança imita.
Adolescente vê, adolescente critica. Adulto vê, adulto briga. A troca de papéis
dentro desta dinâmica desperta a atenção sobre o sofrimento de alguém, seguida
pela identificação de um membro da família com o sofredor e a alteração da
personalidade de ambos, surgindo doenças psicossomáticas e distúrbios mentais
de comportamento, rompimento emocional, uso e abuso de drogas, comportamentos
sexuais polêmicos ou isolamento do mundo.
Sem
flexibilidade as coisas se complicam, pois cada pessoa tem seu próprio grau de
exigência quando se trata de relacionamento humano. Uns são frios, outros muito
carentes. Uns são manipuladores, outros amorosos. Uns são ambiciosos, outros
humildes. Uns são inseguros, outros determinados. Nesta variedade enorme de
comportamento e interações, o que se sobressai melhor é aquele que tem mais
atitude, o que pratica flexibilidade e aprende a lidar com as coisas que o
mundo lhe oferece.
Quanto
aos outros, ou seja, a maioria, resta-lhes a disposição interior de estimular
ou não a sua intuição. Do contrário, terão sempre dificuldades de vivenciar
relacionamentos duradouros e satisfatórios. Estarão sempre se envolvendo em
conflitos, em relacionamentos de codependência, em crises nervosas e
choro. Com frequência
estarão deixando para trás coisas não resolvidas, mágoas e resentimentos. Se
ouvirem sua intuição, terão olhos para perceber a verdade e sabedoria para
afastarem-se de tudo o que promove sofrimento. Terão lucidez, olhos de luz,
maturidade. Os que discordam da própria intuição não sabem diferenciar o que é
intuição e o que é alucinação. Eles vivem relações platônicas e amores
virtuais. Tentam mudar e transformar os outros, mas não tem sensibilidade nem
vontade de mudarem a si mesmos. Preferem culpar os outros pela existência
de misérias pessoais.
Alimentam a inércia e a atribuem ao azar. Tornam-se rígidas dentro de um padrão
familiar de comportamento, pois era assim que sua mãe agia na infância, era
assim que seu pai fazia perto dos filhos na hora de lidar com problemas e mal
entendidos. Para eles, amar é conjugar o sofrimento em todos os tempos verbais.
É
escolha de cada um ser autêntico ou não, mentir para si mesmo e para o mundo ou
abraçar a realidade sem criar jogos emocionais. Na falta de autenticidade a
pessoa se faz de vítima e agride a personalidade de quem ama. Torna-se cega
diante dos desafios e reforça sua autoimagem sem tomar consciência de suas
consequências.O ideal seria ele aprender novas maneiras de pensar e de agir,
observando atitudes diferenciadas até descobrir que atitude é algo
completamente diferente de emoção ou sentimento. Ao aprender novos recursos,
surge dentro de si a vontade e a coragem de mudar, surge dentro de si o
compromisso de ser feliz e a determinação de abandonar a dependência de alguém
que julgava amar, uma vez que amor é libertação e não posse ou servidão.Dentro
deste território sereno de autenticidade, há espaço para a resolução real dos
problemas e segurança suficiente para expressar-se como se é. Há espaço para
continuarem juntos ou para um acordo amigável de separação. Neste terreno aberto de autenticidade, há sementes
de esperança e compaixão, há um sopro agradável de vida, há um fluxo harmônico
de reconhecimento das qualidades do outro e certa tranquilidade para aceitá-lo
sem reservas. Pena que as pessoas inexperientes não se deem tempo suficiente de
entendimento e negociação, partindo precipitadamente para o divórcio das ideias.
Diante
do diálogo verdadeiro descobre-se o isomorfismo, isto é, a manifestação
corporal condizente com o que se é, a expressão facial livre, a voz
convincente, o olhar direto nos olhos do outro em sintonia com o que se diz, se
faz e com o que se acredita e sente. É a expressão mais linda de integridade e
autenticidade. É um estágio de Ser que nos possibilita viver em plenitude, em
conexão profunda com a alegria de viver e com a beleza do mundo. O isomorfismo
é saber o que se é e o que se quer dentro de todo relacionamento e interação
humana.
Sabemos
que a ilha é uma ilha, isolada de todos, porque colocou-se acima dos outros. O
rio, ao colocar-se humildemente abaixo da terra encontrou a plenitude do mar. A
montanha, ao conhecer a própria força sem dominar ou desprezar os que vivem ao
seu redor, chegou mais perto do céu. O vento, por vivenciar continuamente a
flexibilidade, alcançou tanto a doçura da brisa quanto a energia dos furacões e
percorreu livremente os quatro cantos da Terra. O fogo, por ter aprendido a
enxergar a essência das coisas, brilhou na dança da vida e da morte.
Com
tantos exemplos na natureza de flexibilidade, sintonia, grandeza e humildade,
beleza e conexão, resta-nos dois olhos pequeninos para absorver toda a
profundidade do que seja real e verdadeiro, do que seja santo e sábio, para
aperfeiçoarmos cada interação que nos for oferecida, e assim, cada encontro com
estes seres de vida poderá tornar-se uma experiência inesquecível de
autenticidade, paz e harmonia.
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