terça-feira, 29 de novembro de 2011

A MORAL DO CORPO



Basta uma deficiência ou irregularidade no corpo e lá vem neurose. Basta uma auto-crítica e lá vem ansiedade. Basta uma gozação e lá vem complexo de inferioridade. O corpo humano tem este poder de afetar o comportamento devido à nossa identificação com ele.

Nos primeiros passos da formação do ego e da identidade, o corpo é a única referência concreta do que pensamos ser, reforçado pelo nome que nos foi dado. Na infância aprendemos que o corpo é algo sujo, vergonhoso, mal e pecador. A roupa, nossa folha de parreira moderna, cumpre bem o seu papel de esconder certas partes como se fossem indígnas e desprezíveis.

 Para compensar tamanho descalabro e tamanha culpa gerada, criamos a fé com toda uma estrutura hierárquica para nos colocar no fim da fila, criamos a vaidade para diminuir o poder da culpa e nos sentirmos bem com a aparência pois a essência já foi diminuída e negada, criamos o egoísmo pela necessidade de mecanismos de defesa quando nos sentimos ameaçados por algo melhor ou mais bonito, e criamos a violência para descarregar nossa revolta contra toda forma de humilhação
.
Fruto da comparação, nasce em nós o medo da invasão de nossa privacidade e intimidade, o medo de perdermos a autonomia do próprio corpo e o medo de perdermos a liberdade de fazer o que quisermos com ele. Consequentemente, estes mesmos medos são projetados na comunidade e nos governos, na escola e na igreja, nos relacionamentos e na separação ou na ameaça de solidão. Com o risco constante de sermos despidos públicamente, na revelação de nossos erros passados, crescemos em ansiedade e mentiras, a ponto de nelas acreditarmos e transformarmos nosso comportamento e fala numa bandeira vermelha. Trava-se então a maior de todas as guerras, a batalha interior entre  a moral e a transgressão nossa de cada dia, a briga de foice no escuro entre o certo e o errado, o direito de fazer somente quando não estiverem nos olhando. Mas não adianta manipular. O corpo fala.

Nenhum comentário: