Como seria bom se pudéssemos imitar as núvens na hora de lidar com o passado, em busca de confirmações para a nossa dor. As núvens surgem do nada, qual pensamento, tomam formas curiosas em sua breve existência, mas saem da paisagem silenciosamente, sem deixar vestígios.
Você não vê uma núvem olhando para trás. A núvem simplesmente acontece e se deixa ir com a mesma naturalidade. Nós, ao contrário, recorremos sempre ao passado para justificar nossas omissões e fracassos, na impossibilidade de desenharmos uma vida mais leve, livre das amarras da razão, na esperança de que os anos passados encontrem um sentido mais aceitável para o nosso caos. Após a justificativa provisória, jogamos a verdade para debaixo do tapete e choramos um rio até cansarmos ou até receber atenção.
Outro motivo pelo qual tanto retornamos ao passado é o medo do desconhecido. É mais conveniente andar um caminho conhecido para evitar surpresas desagradáveis, mas ao mesmo tempo é muito doloroso se houver pedras gigantes neste mesmo caminho e se quisermos contar apenas com a experiência. O presente não é repetição do passado. O presente é como um sonho que dificilmente se repete, tem duração rápida e passa como núvem diante de nós. O passado tem um gosto de lixo reciclável. O desconhecido ainda nos assusta intensamente. Por isso resistimos tanto.
Ao olharmos para o passado, mergulhamos prazerosamente num mundo de sonhos desconexos, em busca de propósitos e sentidos, inconscientes de que aquele é o lugar errado para formularmos discernimento. A vida tem pressa de existir. O passado é um velhinho aposentado, dirigindo um carro velho no centro da cidade apressada. O melhor espaço para existirmos é o presente. Cabe ao passado e ao futuro recepcionar os sonhos desfeitos ou recém-criados, enquanto saboreamos o açúcar ou o mel da realidade.
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