quarta-feira, 26 de outubro de 2011

GRATIDÃO


Um profundo sentimento de gratidão acaricia minha alma, toda vez que penso nas coisas maravilhosas que a vida tem me dado. A gratidão é um exercício nobre de contato com tudo o que é harmônico e uma brisa suave do sopro divino sobre o coração pacífico. Ela é a purificação de nosso contato com o mundo.

Fico feliz toda vez que olho para o corpo que me carrega. A vida me deu de graça um corpo que me permite sentir, ouvir, admirar, falar, saborear. A vida me deu uma mente que me permite sonhar, compreender, construir e interpretar. Ela me deu a natureza com as paisagens mais belas do universo sem fim, pessoas e coisas numa variedade infindável de formas e conteúdo. Deu-me a água cristalina, o ar e os alimentos e deu-me o planeta como a minha morada provisória. A vida me deu também um rio de oportunidades, fontes inesgotáveis de energia, coisas que podem ser transformadas em alegria, força, saúde, proteção e sentido. Ela me fez semente de esperança. Mas o que mais me toca e impressiona é o crédito que ela me deu. Quanta coisa boa recebí sem nada ter-lhe oferecido ou aprendido antes a oferecer. Quantos recursos, talentos e dons me foram ofertados, sem que eu tivesse apresentado qualquer garantia de devolução. Crédito de ter direito`à uma existência, de ser chamado filho do Criador, de fazer parte do milagre da criação. Crédito de respirar e ser amado, de reproduzir a vida e reinventá-la a cada instante. Crédito de estar aqui, com você, olhando juntos para o oceano da gratidão.

Será que, um dia, haverá mesmo uma prestação de contas sobre o que fizermos com tão valioso presente ? Se foi presente, ela nos foi dada com amor e sem cobranças. Se foi empréstimo, aí sim, é de nossa responsabilidade tomar conta de cada minuto da vida que temos. O sentido que eu der para os meus atos e os meus dias é que vai determinar o grau de trocas entre eu e o mundo. Eu estabeleço o nível de troca com a vida: pouco(egoismo), nada(entropia) ou muito(bondade).

Ao espremermos uma manga, sairá apenas caldo de manga. Ao extrairmos algo de nós ou de alguém, sairá apenas o que houver dentro de cada um, ou seja, cada um dá apenas o que tem. Mas temos tanto, senão tudo. Somos mais do que uma árvore, somos o fruto das possibilidades.

Dentro desta consciência e movidos pelo espírito de gratidão, vamos investigar agora  o que temos dado para a vida. Tal qual uma empresa, é hora de especificarmos as entradas e as saídas, o crédito e o débito. Vamos lembrar da caridade e a generosidade que exercemos, a compaixão com que olhamos para as diferenças entre as pessoas, a nossa contribuição humanitária. Muitas vezes soubemos usar nossa energia na geração de produtos e na produtividade do trabalho e elaboramos o conhecimento com a ferramenta da criatividade. Missão elevada, contribuimos silenciosamente com a propagação da espécie, dando prosseguimento ao sopro inicial que do barro fez a vida. Levamos a paz e a discórdia, levamos a esperança e espalhamos ao vento as cinzas da reclamação. Oferecemos aos outros nossas verdades e mentiras. De nossas bocas voaram cobras e lagartos ou doces canções para ninar os que nos procuraram. Demos o nutriente e a semente, o cuidado e o descuido, o apoio e o abandono.

É chegado o momento de nos perguntarmos se estamos felizes com o que ofertamos ao mundo e às pessoas, ou se nos arrependemos de nosso egoismo e omissão. Hora de olhar no espelho da verdade e reavaliar nossas relações interpessoais, tudo o que dissemos sem responsabilidade ou sensibilidade, as promessas que descumprimos, as manipulações ardilosas para compensar a auto-estima comprometida e desnutrida. Tempo de confirmar se aceitamos ou não o que somos, se fugimos de nossa essência e demos preferência absoluta ao material e às aparências. Feito isso, podemos dirigir o olhar novamente à gratidão interior.

Deixando de lado o convencimento, será que conseguiríamos doar todas estas coisas sem antes termos recebido algo da vida ? A resposta repousa dentro de cada um. Tudo nos foi emprestado, tudo circula e passa de mão em mão, de coração em coração. Há casas abertas e vidas trancadas, janelas de sol e páginas viradas, sorrisos de luz e almas encarceradas...mas há também a voz sonolenta e rouca de tanto dizer "OBRIGADO!!!".

Um comentário:

Anônimo disse...

É maravilhoso poder contar com uma visão tão apaixonante da vida , e ao mesmo tempo rever alguns conceitos e atitudes despertadas depois de entrar em contato com estas palavras!Só posso dizer...Obrigada!