Será que sabemos a hora certa de iniciar ou encerrar uma relação? Será que podemos nos preparar para antecipar uma partida anunciada? Será que cabe a nós deixar alguém partir? Se a pessoa que se foi não tinha escolha, ou se nós não tivemos essa escolha, será fácil aceitar o passado recente até que as marcas da despedida cicatrizem nossas memórias?
A hora de iniciar um relacionamento pode ser o fruto de uma conversa ou de uma carência, de uma decisão ou de um empurrãozinho. Ele simplesmente acontece quando tem que acontecer. Cada encontro apresenta inúmeras possibilidades e cada pessoa escolhe as suas. Se der certo, deu. Para encerrar uma relação a estória é bem diferente. Depois de um período de tempo e de conflitos criados diante das diferenças irreconciliáveis, arrasta-se uma decisão, pondera-se uma emoção, apega-se à uma condição. Pede-se auxilio às paredes, ao vento, aos santos e ao travesseiro.
Em casos de separação por morte após uma doença, nenhuma dor é capaz de nos preparar para mexer as mãos em adeus. Não se prepara para o imprevisto, o infortúnio, nem para o destino. A ilusão de termos controle não nos deixa afagar a morte anunciada, nem diante de sofrimento da parte de quem vai partir. Fica difícil autorizar um adeus, fica complicado perder uma referência de vida sem se sentir mexido emocionalmente. Fica difícil lidar com situações que não nos consultaram, mas nos deram uma rasteira de mestre.
Ninguém deixa alguém partir. As coisas acabam, terminam o prazo, não nos servem mais. As coisas perdem a beleza ou a vitalidade, sugando nossas energias. Ora nos deparamos com o inevitável, ora crescemos e amadurecemos. Enquanto não aprendermos a lidar e a aceitar a realidade, nos comportaremos emocionalmente feito crianças diante dos desapegos, nos desapegaremos da arte de deixar partir.
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