sábado, 25 de junho de 2022

POEMA GEOGRÁFICO DA FALA

 

A geografia inteira mora em mim. Tem dias em que o Saara quer conversar com a solidão, deixando as tempestades de areia trazer momentos preciosos do passado. Tem dias em que a pororoca arranca árvores gigantescas de pensamentos triviais, mostrando e demonstrando que os propósitos de vida são mais importantes. Tem dias em que sou morro e montanha, morrendo de vontade de querer alcançar o céu, com asas teimosas ou invisíveis. Tem dias em que o oceano de emoções forma espumas entediadas, por não ter chão para pisar com ternura e prazer, ainda que eu leia poesias no entardecer. Tem dias em que a boca vira uma península de espantos, repleta de barcos fantasmas e olhares distantes, onde os pescadores de alma se descobrem por hora desalmados. Tem dias em que me vejo pedra, silenciosa como a paz inalcançada, pesada como são os dias tolos, compacta como é o cerne das constelações que me olham com pressa de cometa e com a frieza de Urano. Tem dias em que me enraízo na linha do tempo, em busca de uma canção inédita sobre a matemática de viver a dois. Tem dias que não são dias, não se parecem dias, não respiram o destino ou a sina de se sentir vivo como as águas-vivas mais alegres da ilha. Tem dias em que a geografia se cala e a mente vira a terceira guerra mundial.

 


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