A geografia inteira mora
em mim. Tem dias em que o Saara quer conversar com a solidão, deixando as
tempestades de areia trazer momentos preciosos do passado. Tem dias em que a
pororoca arranca árvores gigantescas de pensamentos triviais, mostrando e
demonstrando que os propósitos de vida são mais importantes. Tem dias em que
sou morro e montanha, morrendo de vontade de querer alcançar o céu, com asas
teimosas ou invisíveis. Tem dias em que o oceano de emoções forma espumas
entediadas, por não ter chão para pisar com ternura e prazer, ainda que eu leia
poesias no entardecer. Tem dias em que a boca vira uma península de espantos,
repleta de barcos fantasmas e olhares distantes, onde os pescadores de alma se
descobrem por hora desalmados. Tem dias em que me vejo pedra, silenciosa como a
paz inalcançada, pesada como são os dias tolos, compacta como é o cerne das
constelações que me olham com pressa de cometa e com a frieza de Urano. Tem
dias em que me enraízo na linha do tempo, em busca de uma canção inédita sobre
a matemática de viver a dois. Tem dias que não são dias, não se parecem dias,
não respiram o destino ou a sina de se sentir vivo como as águas-vivas mais
alegres da ilha. Tem dias em que a geografia se cala e a mente vira a terceira
guerra mundial.
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