terça-feira, 21 de junho de 2022

AMAMENTAÇÃO

 

Abraço desassossegado, com cheiro de leite em pó, sem saber se o colo é cama ou continuação uterina. Mãe bate coração e jorra leite. Filho suga a vida com pressa de crescer. Seus olhos a buscam no silêncio, mas somente a encontra no calor. Abraço que não segue fórmulas ancestrais, ainda que se reinvente na vida moderna. Quem não pediu pra dormir, nocauteado de amor se foi. Abraço desabraçado, no berço desencontrado. Mainha cantou ao cansaço, pensou logo no almoço, doía-lhe ainda os braços, mexer colher era lei. Na dança dos temperos, feijão fervilhava seus sonhos em pó de arroz tropeiro. Tem mais gente para cuidar. Tem mais vozes a mandar. Mainha se desdobrava, nascida que foi para amar. Hoje o menino cresceu e o mundo foi quem lhe lambeu.


Nenhum comentário: