Todos dividimos a mesma ladainha, as mesmas reclamações, as mesmas reações diante do desconhecido. Todos compartilhamos a mesma estória da carochinha, correndo do lobo mau ou dançando com os três porquinhos, esperando o príncipe mas dormindo com o sapo. Todos nós sonhamos com o final feliz, como se bastasse a felicidade chegar para tudo se acabar diante de nossos olhos emocionados. A vida é uma narração interminável e repetida da estória do sofrimento humano.
Nem percebemos que a estória que cada pessoa conta é o que a define diante dos outros, a buscar o reforço de uma identidade ou auto-imagem grandiosa, a pretender que se é o que se gostaria de ser, a envolver para obter admiração. Cada estória contada repetidas vezes é como uma oração sem amém, uma música com CD riscado, uma conversa para boi dormir. Todos tem a sua estória na busca do amor perfeito, no sonho de ser amado e reconhecido, na vontade de ser rico para satisfazer todos os desejos. Todos somos contadores de estórias que a vida escreveu em nossa pele.
É por isso que a vida perde o sal, o mistério, o tempero. Tudo é contado em vão. Tudo é reduzido ao pó do chão. Tudo é diminuido pela mão. Falta a fantasia para colorir o cinza da realidade indesejada. Falta a alegria para rir das mazelas. Falta a vírgula, a retiscência, a respiração suspensa no ar até que a imaginação salte de paraquedas. Falta compreendermos que a vida é um raio de energia que rasga o céu do tempo e troveja amores e faz chover graça em tudo o que acontece depois da chuva. Falta a contemplação do agora, mesclado com a intenção de sorrir eternamente. Falta o desapego da mente. Falta diksha nas nossas cabeças cansadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário