Bhakthi Yoga é um processo bem diferente de Mukthi no que diz respeito às transformações internas. Com Dikshas há um preparo do terreno, por assim dizer, onde revolvemos o passado e as suas cargas emocionais, onde aprendemos a olhar para o nosso lado feio sem julgá-lo nem dar nomes à nossas sombras. Há uma confrontação com nossos fantasmas internos, com o lixo que varremos para debaixo do tapete por anos a fio. Mesmo que exista vontade de se tornar desperto, ainda é cedo para aqueles que tem muito trabalho a fazer, um trabalho simples de auto-observação no ninho da cobra, um desafio de abrir mão da importância e da significância que ainda existem em muitos de nós Doadores.
Bhagavan sabia e nos alertou várias vezes para esta etapa do processo. Em seguida ele nos deu as sementes, ou seja, os doze ensinamentos que repetimos na prática de Mukthi Diksha, com o objetivo de prepararmos a mente para não entrar em parafuso quando for destituída de seu poder central. Tais ensinamentos, quando praticados com intensidade, deixam a mente perdida em desvarios, a ponto de nos enganar que já estamos despertos. Pensamos que depois de tamanha dedicação ao movimento da unidade já merecemos o pedestal, afinal iniciamos tantos Givers, fomos à India tantas vezes, vestimos a camisa de Bhagavan e nos expomos em praça pública. Como todo semeador, precisamos nos lembrar de que nem toda semente germina, algumas caem no chão duro e teimoso, outras caem na roupa do semeador, outras caem sobre pedras resistentes que duvidam de tudo, enquanto não puderem enxergar com os próprios olhos.
Com Bhakthi Yoga, depois de ter sumido o sofrimento, é a vez de sumirem os medos, o que faz uma tremenda diferença no processo do despertar. Sem medos não há projeções, não há competição ou insegurança, não há muito espaço para a mente. À esta altura já existe uma percepção mais aguçada da realidade, a qual aceita tudo com mais facilidade. Há uma prontidão e alerta constante, mas uma alerta relaxada, desvinculada sutilmente do mundo material e das interações conflituantes com tudo o que for diferente de nós. Não há cobranças externas nem apego ao que foi aprendido até então. Há um desaprender com cara de libertação, com gosto de espanto infantil, com cheiro de sabedoria no ar. Fluimos como flui um rio, sem questionar o clima ou os declives do caminho, com a certeza plena de que há um oceano de amor incondicional lá na frente, cheio da mesma essência que sempre nos preencheu e não sabíamos. Não há mais necessidade de olhar para trás. Nem para frente. Apenas Ser o que se é, aonde se está. O rio nada fez para correr mas correu, se deu ao mar. O rio não desejou mudança de tempo pois o tempo cessou de existir. A vida simplesmente acontece, ao redor, acima e embaixo, quando se torna um rio. A natureza tem mesmo grandes lições para o nosso processo.
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