quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

O SAMBA DOS SENTIMENTOS (1)

 

Tudo se arruma ou se desarruma, mas se tem uma coisa que me encanta, é ver o poeta arrumar sentimentos em beleza, através das palavras. Sentimento pode vestir-se de miséria ou de nobreza, andar nu ou de manto cravejado por diamantes, sem perder a pose, sem cair do galho. O sentimento exige que dele lhe cuidem. Por obra do poeta, sentimento pode perverter a gramática em nome do resultado poético, pode surpreender ao leitor pela introdução de uma memória coletiva, pode imaginar o inimaginável sem causar espanto ou escárnio. Sentimento tem personalidade forte, tem garras de demonstração pública, tem intimidade com a solidão e com os quartos vazios. Sentimento escorre nas veias ou no rosto, sempre para baixo, sempre em busca do coração.


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