Tudo se arruma ou se desarruma, mas se tem
uma coisa que me encanta, é ver o poeta arrumar sentimentos em beleza, através
das palavras. Sentimento pode vestir-se de miséria ou de nobreza, andar nu ou
de manto cravejado por diamantes, sem perder a pose, sem cair do galho. O
sentimento exige que dele lhe cuidem. Por obra do poeta, sentimento pode
perverter a gramática em nome do resultado poético, pode surpreender ao leitor
pela introdução de uma memória coletiva, pode imaginar o inimaginável sem
causar espanto ou escárnio. Sentimento tem personalidade forte, tem garras de
demonstração pública, tem intimidade com a solidão e com os quartos vazios.
Sentimento escorre nas veias ou no rosto, sempre para baixo, sempre em busca do
coração.
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