quinta-feira, 28 de novembro de 2024

APAGUEM AS LUZES DO MUNDO

 

Aprendi a contar com meus hominhos. Um, dois, três, quatro, seis, sete, nove, dez. Eram miniaturas de superherois que exigi ganhar de presente para dormir sozinho no meu quarto. Com o tempo, ganhei também um cobertor com estampa dos herois americanos; eu que ainda não sabia onde ficava a América, mas acreditava ser uma terra mágica atrás das estrelas do céu. No meio dos hominhos havia alguns indios verdes de cabeleiras longas, e um tal de Apache, sempre em posição de luta; eu que nada entendia de  invasão de terras. Como eles permaneciam imóveis com aquele olhar de plástico, eu lhes dava movimentos bruscos. Só queria matar. Na verdade, queria mais era imitar os barulhos de bombas, tiros, pancadas, facadas, tudo pelo fascínio de dar vida aos figurinos e miniaturas de infância. Só descobrí mais tarde que eram eles que me davam vida, naquele quarto solitário de filho único, onde eu transformava pensamentos em conquistas heróicas, sem saber que era eu... o herói de mim mesmo.


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