A melhor metáfora que
encontrei para descrever a etapa do processo de despertar, no qual me encontro
agora, é estar flutuando à deriva como se fosse uma rolha de cortiça, entre o
cais e o mar infinito. Vejamos, por partes, os possíveis significados de cada
elemento desta metáfora.
A rolha perdeu sua
função conhecida de tapar buracos e bocas de garrafa para preservar o conteúdo
e os aromas. Ela deixou de trabalhar para segurar o passado, deixou de guardar
o conhecimento para necessidades futuras, colocando-se a serviço do momento
presente como único instante em que se pode usufruir do aroma da vida. Ela
desvalorizou a linha do tempo e eternizou o que havia acima e abaixo desta
linha, ou seja, o vazio onde existem as infinitas possibilidades.
Flutuar à deriva é como
renunciar ao roteiro de viagem, sem pressa para chegar a lugar algum, sem lugar
para visitar, sem apegar-se a nenhuma função. Flutuar feito rolha solta no mar
é abrir mão de metas, é desapegar-se de tudo o que antes lhe dava prazer, é
descomprometer-se do comando ilusório para experimentar a fluidez da energia
vital que se manifesta automaticamente. Estar entre o cais firme e sofredor e a
imensidão do mar inquieto é tornar-se indiferente à agitação mental, para ceder
lugar a algo maior que chamamos consciência. Só a sensação de deriva elimina a
sensação de estranheza.
Não ter uma função desejada e definida é
possibilitar-se útil para qualquer movimento universal da vida. Flutuar à
deriva é saber internamente que tudo está perfeitamente correto como
acontecimento; é saber que a vida tem autonomia para fluir independentemente
das intenções de cada individuo ou cada grupo. Somente as rolhas leves se
deixam conduzir pelos movimentos vitais que a cercam de manifestações divinas.
Um comentário:
Já alguém me disse que eu era uma rolha de cortiça a flutuar no oceano...como sendo uma acusação...ao que respondi que era uma pedra no fundo do oceano! Apesar de todo oamor que sentia por ele...foi um dos sinais que a relação estava condenada. Adorei o teu texto é assim que sinto e acho que é um sentir positivo...adorei saber que há mais rolhas a flutuar neste imenso oceano! Quem sabe um dia nos cruzemos a meio!
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