Escrever é organizar
ideias, clarear entendimentos, definir os passos a serem dados, dar vida ao
abstrato, olhar para dentro, negociar as necessidades básicas, olhar para o que
ainda estiver escondido, dar voz ao silêncio, encontrar respostas, declarar o mistério
de cada instante, jogar luz nas intenções. Escrever é abrir com segurança a
represa das emoções e dela recolher a energia da esperança em um mundo melhor.
O bom escrevedor é
aquele que leu muito, aquele que pensou e visitou muitos pontos de vista sem a
obrigatoriedade de adotar um deles, aquele que se informou sem ser deformado
pela manipulação de muitos. O bom escrevedor é aquele que mantém diálogo
interno com o mundo, com as verdades e inverdades do ser humano, com os vários
aspectos da existência, com as oscilações dos acontecimentos, com o que há lá
fora mais parecido com o que há lá dentro. Ler e escrever são atos de
discernimento.
O bom escrevedor é
aquele que passeia pelos posicionamentos pessoais sem priorizá-los, sem lhes
dar preferência, sem fincar bandeiras, sabedor de que sua função principal é a
de abrir portas e janelas ao leitor sedento de novas experiências. O bom
escrevedor é aquele emprestador de olhos e de coração para os que não querem
ver ou se deixaram dominar pela tirania da mente fria e calculista, é aquele
ser gentil que recupera aos olhos da humanidade o que passou pelo rio da vida
sem virar peixe para a alma, aquele pintor de realidades imperceptíveis aos
olhos dos mais desavisados.
Escreva alguma coisa,
por favor. O lápis espera a mão titubeante, a mão vertiginosa, a mão incessante
e inquietante diante das incertezas do sentido da vida. A caneta espera a mão
disponível durante as obrigatoriedades do cotidiano, a mão livre e solta que
busca um guardanapo de papel para guardar ideias de ouro, a mão que recolhe os
respingos de inspiração e os pontos de esforços intelectuais. A tecla do
computador espera a mão ágil e assertiva que corre afoita atrás das palavras
sutis relampejadas na alma, a mão que pesquisa a forma visual e o conteúdo
prático sem perder a beleza inerente das curvas da gramática portuguesa.
Escreva alguma coisa, por favor. Se não tiver lápis, caneta nem computador,
escreva com as tintas de sabedoria uma literatura oral que encante as crianças
com contos de fadas e os adultos com causos de heróis e vilões que cruzaram os
nossos caminhos. Não se esqueça. Escrever é um ato amoroso. Escrever é viver e registrar a vida na página branca do amor.
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