sábado, 21 de abril de 2012

ESCREVA ALGUMA COISA POR FAVOR


Escrever é organizar ideias, clarear entendimentos, definir os passos a serem dados, dar vida ao abstrato, olhar para dentro, negociar as necessidades básicas, olhar para o que ainda estiver escondido, dar voz ao silêncio, encontrar respostas, declarar o mistério de cada instante, jogar luz nas intenções. Escrever é abrir com segurança a represa das emoções e dela recolher a energia da esperança em um mundo melhor.

O bom escrevedor é aquele que leu muito, aquele que pensou e visitou muitos pontos de vista sem a obrigatoriedade de adotar um deles, aquele que se informou sem ser deformado pela manipulação de muitos. O bom escrevedor é aquele que mantém diálogo interno com o mundo, com as verdades e inverdades do ser humano, com os vários aspectos da existência, com as oscilações dos acontecimentos, com o que há lá fora mais parecido com o que há lá dentro. Ler e escrever são atos de discernimento.

O bom escrevedor é aquele que passeia pelos posicionamentos pessoais sem priorizá-los, sem lhes dar preferência, sem fincar bandeiras, sabedor de que sua função principal é a de abrir portas e janelas ao leitor sedento de novas experiências. O bom escrevedor é aquele emprestador de olhos e de coração para os que não querem ver ou se deixaram dominar pela tirania da mente fria e calculista, é aquele ser gentil que recupera aos olhos da humanidade o que passou pelo rio da vida sem virar peixe para a alma, aquele pintor de realidades imperceptíveis aos olhos dos mais desavisados.

Escreva alguma coisa, por favor. O lápis espera a mão titubeante, a mão vertiginosa, a mão incessante e inquietante diante das incertezas do sentido da vida. A caneta espera a mão disponível durante as obrigatoriedades do cotidiano, a mão livre e solta que busca um guardanapo de papel para guardar ideias de ouro, a mão que recolhe os respingos de inspiração e os pontos de esforços intelectuais. A tecla do computador espera a mão ágil e assertiva que corre afoita atrás das palavras sutis relampejadas na alma, a mão que pesquisa a forma visual e o conteúdo prático sem perder a beleza inerente das curvas da gramática portuguesa. Escreva alguma coisa, por favor. Se não tiver lápis, caneta nem computador, escreva com as tintas de sabedoria uma literatura oral que encante as crianças com contos de fadas e os adultos com causos de heróis e vilões que cruzaram os nossos caminhos. Não se esqueça. Escrever é um ato amoroso. Escrever é viver e registrar a vida na página branca do amor.


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