quinta-feira, 19 de abril de 2012

A ESCRITA LITERÁRIA


O ato de escrever é um exercício de transcendência do que se pode viver, interpretar, extrair e partilhar de um momento acontecido, dentro ou fora de nós. Escrever é recolher copos de água para montar um poço, um rio, um lago ou um oceano de ideias. A água é o pensamento nu, ou contorcido, ou multiplicado, ou extasiado, ou encolhido, ou enfeitado, ou penetrado, ou organizado, ou levado às últimas consequências.

 Escrever é um ato de garimpagem, mas antes de tudo é trabalho de criação onírica e projeção visual daquilo que nos dá prazer e denuncia a dor. É alquimia individual das experiências e das carências humanas. Escrever é dar voz a tudo que existia no mar do silêncio, promovendo diálogos e monólogos com a essência do que existia sem corpo, por mais inquietantes ou neutras elas possam parecer. Escrever é tirar a voz das pedras, da miséria humana, do ignorado, do inconsciente, do inexistente.

O escritor, este operário da palavra, não conhece a identidade do recipiente, mas revela traços de sua própria personalidade em sua escrita. Uns procuram a palavra mais verdadeira, outros, a mais bonita. Uns procuram a alegria, outros o suspense. Uns procuram o entretenimento, outros o suspiro do coração. Uma coisa todos tem em comum. Procuram, juntos, o espelho que possa revelar por inteiro a humanidade, em sua trajetória de vida e de morte. O escritor é este leitor da própria existência, no ato de transplantar a realidade manifesta para as formas da palavra, seja no princípio ou no final de um instante que se eterniza para quem busca o eterno.

Servir-se de um bom livro é conectar-se com o próximo passo de crescimento pessoal. É alimentar-se do pudim das ideias. É semeadura de intenções e impetuosidades. É praticar esportes intelectuais para fortalecer os músculos da inteligência. Ler um bom livro é reencontrar a esperança na libertação de nossas antiguidades. É tomar um banho para refrescar os vícios de linguagem adquiridos na rua suja do tempo. É receber bênçãos de um amigo invisível e recolher o néctar da vida em nossos voos tímidos. Ler um bom livro é ver-se nele.

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