Morrer em si já é um processo assustador para muitas pessoas. Imagine morrer sozinho. Hoje parei para pensar naqueles que são abandonados pelos filhos em asilos, nos imigrantes que morrem distantes da família, os motoristas que morrem em acidentes, naqueles que morrem sozinhos nos hospitais sem dar tempo de chamar os familiares. O que passaria pela cabeça na hora de nossa morte?
Neste momento não há mãos para eu segurar, nem voz para me falar do eterno, mesmo sabendo que eterno é o medo de ficar sozinho. Não vou poder olhar assustado nos olhos frios daqueles que já se conformaram com a minha partida, de olho na partilha de meus bens. Não vou poder olhar nos olhos molhados daqueles vultos emoldurados na parede, pois nesta hora ninguém chora por mim.
Não posso resolver voltar. A mim não me foi dada nenhuma escolha. As folhas simplesmente caem das árvores. Talvez esta queda ou este medo da queda é que me faz ter receio dos abismos dimensionais, do escuro sem fim, do silêncio mortal. Talvez não haja porta definitiva para eu fechar sem rezar adeus, sem ao menos dizer “até logo” para os esquecidos, do destino que é programado para todos os viventes. Só me resta sonhar com os deuses e com os filhos dos deuses do outro lado da porta de luz.
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